Desde muito tempo em economia, se reconhece que as expectativas concebidas por consumidores e empresários podem exercer importante influência sobre os resultados efetivos da economia. Assim, se as famílias e os empreendedores passam a acreditar que o emprego, a renda e o lucro serão maiores no futuro, se elevará a confiança, e, portanto, a intenção de consumir e produzir, gerando maior atividade econômica tanto no presente como no futuro. O contrário ocorrerá se a percepção sobre o futuro passar a ser menos benigna. Desse modo, é muito possível que as expectativas se convertam em “profecias autorrealizáveis”, ou seja, se acharmos que o futuro será promissor ou não poderemos, ainda que sem intenção, contribuir para que esse resultado se materialize. Por isso, é muito importante a consideração dessa variável se o objetivo é realizar algum prognóstico sobre a situação futura.
Após serem divulgados os decepcionantes resultados da atividade econômica no ano passado, os analistas de mercado reduziram suas projeções para o presente ano, o que em parte se explica pelo fato de que o pífio resultado da atividade no último trimestre do 2018 tende a “contaminar” sua evolução durante os próximos meses. Fora esse efeito estatístico, porém real, quais poderiam ser os motores de propulsão da economia nesse ano que recém se inicia.
Mais uma vez, os resultados fiscais de 2018 mostram que o grande “calcanhar de Aquiles” da economia brasileira continua sendo a situação das contas públicas, que nos últimos cinco anos têm apresentado “rombos” expressivos, embora de menor magnitude, a partir de 2017. O financiamento desses “rombos”, por sua vez, demanda um endividamento crescente por parte do setor público, que já ultrapassa em quase 60% a média de outros países emergentes, numa trajetória que põe em risco sua solvência futura.
O ano que termina foi marcado pela continuidade da recuperação da economia brasileira, ainda que de forma muito mais lenta do que se esperava. O consumo das famílias deverá crescer acima do observado durante 2017, porém, não de forma significativa, dado o elevado desemprego e o aumento da informalidade, que limitam o crescimento dos salários, além das condições de crédito ainda “apertadas”. Toda essa situação também impediu uma retomada mais significativa dos serviços, que é o principal setor, do ponto de vista da produção, pois este é muito dependente do poder aquisitivo das famílias.
O “Impostômetro” da Associação Comercial de São Paulo, que é um painel que informa o valor total de impostos, taxas, contribuições e multas pagas pela população para o Governo Federal, Estados e Municípios, ultrapassou a marca dos R$ 2 trilhões na terceira semana de novembro, um mês antes em relação ao ano passado.
O próximo Presidente, seja ele quem for, “herdará” uma economia ainda em fase de lenta recuperação, que, para elevar a tração, necessitará de uma condução sensata da política econômica, restabelecendo o chamado modelo do “tripé macroeconômico”, baseado em três alicerces fundamentais: meta de superávit fiscal primário, sistema de metas de inflação e taxa de câmbio flutuante.