
Na quarta-feira (12), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por meio do seu Conselho de Política Urbana (CPU), realizou, na sede da entidade, um debate com a participação de Marcos Monteiro, secretário de Infraestrutura Urbana e Obras da cidade de São Paulo (SIURB), e Pedro Martin Fernandes, presidente da São Paulo Urbanismo, que palestraram acerca do tema: “Crises e oportunidades para a gestão das águas urbanas”.
Antes de iniciar as exposições dos palestrantes, Beatriz Messeder, coordenadora de Política Urbana da ACSP, efetuou uma introdução abordando os motivos que levaram o CPU a propor o debate sobre águas urbanas. Em sua fala, ela mencionou alguns dados do relatório Global Water Monitor Report, de 2024. Entre eles, 8.700 mortes causadas por desastres relacionados às águas e 40 milhões de pessoas que perderam seus lares em todo o mundo.
Beatriz também disse que o ano passado foi um dos mais quentes já registrados, com temperaturas de 1,2 grau Celsius mais altas do que as médias entre 1995 e 2005. Além disso, foram estimadas perdas econômicas na ordem de 3,35 trilhões de reais, associadas aos desastres relacionados às mudanças climáticas.
Palestras
Marcos Monteiro abriu a palestra discorrendo sobre as preocupações da administração municipal a respeito dos eventos climáticos extremos. O secretário argumentou que existe um aumento contínuo no volume de chuvas, que tem se tornado cada vez mais concentrado em períodos curtos, prejudicando o sistema de drenagem da cidade.
“Realmente, temos, ano a ano, um aumento do volume de chuvas, mas essa chuva tem mudado um pouco de característica, ela está cada vez mais concentrada em volumes maiores”, destacou. “Ela [a chuva] cai, conceitualmente, em determinadas regiões em um período mais curto, o que é muito ruim para o sistema de drenagem da cidade”.
Monteiro relatou que o “controle de cheias é complexo e bastante antigo”, uma vez que a cidade é “varrida por córregos”, potencializado pela urbanização e impermeabilização do solo, que aumentam o escoamento superficial e reduzem a capacidade de infiltração da água. Hoje, a cidade possui 34 reservatórios, 30 pôlderes - área de terras baixas, planas e alagáveis, que é protegida de inundações por meio de diques e sistemas de drenagem - e cinco lagos, resultando em 7,5 milhões m³ de áreas de reservação.
“Temos 1.363 km de córregos canalizados, sendo 189 km a céu aberto e 1.173 km de canalizações fechadas”, apontou o secretário. “Hoje, a orientação, em todas as intervenções na cidade, é que, nas canalizações, você preserve o córrego aberto. E mais, havendo a possibilidade, que renaturalize o córrego. Então, hoje, pelas instruções da CETESP, nós não podemos mais fechar”.
Sobre o planejamento e a execução de obras de drenagem pelo poder público, o secretário mencionou que o município possui um Plano Diretor de Drenagem atualizado, passando de 56 para mais de 90 obras propostas.
“Com a edição de novos cadernos de drenagem, hoje são 96 obras no Plano Diretor de Drenagem, e ele tem que ser dinâmico. Cada caderno novo, mais obras são apontadas para serem executadas na cidade”.
Até o momento, foram entregues 247 obras de drenagem, com seis em andamento e outras em fase de licitação. Há, também, um trabalho de monitoramento dos reservatórios e das bombas, com foco na limpeza e manutenção das estruturas. “A secretaria [SIURB] executa e entrega para a Secretaria de Subprefeituras fazer a zeladoria, que tem um sistema bastante interessante de monitoramento dos reservatórios, de verificação das bombas, de como está a manutenção, questão de segurança, porque se não mantém segurança no local, o pessoal vai lá roubar fio de bomba”.
Ele também revelou que a gestão trabalha para implementar soluções que não somente tratem a drenagem, mas que integrem áreas urbanas e naturais, com a criação de lagoas de retenção que podem ser utilizadas para outros fins quando não estão em uso para drenagem.
Pedro Martin Fernandes iniciou a sua apresentação abordando a importância do Plano Municipal Hidroviário (PlanHidro SP) que, embora ainda não esteja oficialmente publicado, já tem várias etapas importantes que foram consolidadas. “É a síntese de uma visão de futuro que a gente está trazendo para a cidade de São Paulo, usar o máximo do potencial das hidrovias urbanas como modo de transformação urbana, para vários aspectos”, disse.
O documento elabora ações que visam à utilização das águas para diversas finalidades, como navegação fluvial, transporte de pessoas e cargas, esportes aquáticos e lazer. A São Paulo Urbanismo enxerga nessas ações a melhoria da infraestrutura da cidade e a redução das emissões de CO? associadas ao transporte rodoviário.
O Plano Municipal Hidroviário inclui também propostas para construção de Ecopontos e Ecoportos, que facilitariam a triagem e destinação de resíduos. “O Ecoporto é a estrutura que junta as cargas dos passageiros, ou seja, já tem transporte de passageiros, e eles vão ser implantados, e a gente implementa também um ponto de entrega voluntária [de resíduos]”, disse. O objetivo do PlanHidro SP é integrar as hidrovias com outras áreas metropolitanas, visando melhorar a mobilidade e o acesso às águas, especialmente para as comunidades carentes.
Fernandes salientou que o uso das águas possui um potencial grande para contribuir com o desenvolvimento urbano, seja com navegação fluvial, transporte de pessoas e cargas, esportes aquáticos e lazer. “Não só no sentido da relação com a água, mas no sentido de um lugar, de uso intenso, mas sempre visando à recuperação ambiental e para uma integração entre vários setores”.
O PlanHidro SP propõe criar Ecopontos e Ecoportos; implementar transporte hidroviário para conectar diferentes áreas da cidade; construção de passarelas e ciclovias que liguem áreas urbanas e hidrovias; oferta de programas de educação ambiental; criação de centros esportivos náuticos e aquáticos; e dragagens para garantir a navegabilidade dos rios e a remoção de resíduos que obstruam o fluxo das águas.
Veja as fotos: flic.kr/s/aHBqjC5hg6
Por ACSP - 13/03/2025