Se não fosse Lava Jato, Aécio Neves provavelmente venceria no 1º turno, diz Lavareda na ACSP

"Nenhum de nós deve ter grande dúvida de que, se Aécio Neves não tivesse sido envolvido pela Lava Jato, hoje ele era um candidato que provavelmente ganharia a eleição presidencial no primeiro turno". A afirmação é do cientista político Antonio Lavareda durante evento na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) na última segunda-feira (17). Ele foi convidado pelo Conselho de Economia e pelo Conselho Político e Social, ambos da ACSP, para analisar o atual cenário eleitoral brasileiro.

Lavareda disse que a Operação Lava Jato é uma variável poderosa no processo eleitoral e citou o caso do ex-governador do Paraná Beto Richa, além das denúncias contra Fernando Haddad e Geraldo Alckmin, em São Paulo. “Nós vamos ver novas evidências disso até o segundo turno”, previu o especialista, para quem as eleições deste ano não são normais, mas críticas. Na literatura de ciência política, eleições normais ou mantenedoras são aquelas em que as preferências políticas prévias dos eleitores terminam se confirmando nas decisões de urna. A eleição de 2018, porém, é diferente, sendo classificada pelos especialistas como crítica: são eleições disruptivas em relação aos alinhamentos tradicionais, de uma parte ou de outra do espectro ideológico. “No nosso caso brasileiro, essa eleição tem acometido de uma forma decisiva o espectro do centro à direita, explodindo velhas e antigas lealdades partidárias ou impedindo a reiteração de comportamentos eleitorais anteriores”, comentou o palestrante, especificamente em relação ao declínio do PSDB.

No entendimento do cientista político, as eleições brasileiras seguem tendências e têm características similares às do mundo afora, como a fragmentação política, que resulta na dispersão eleitoral. “Consequentemente, vêm à cena forças políticas que, no jogo tradicional, seriam absolutamente minoritárias; partidos que em alguns momentos, em países com cláusulas de barreiras mais vigorosas, teriam dificuldade em assumir efetiva representação parlamentar, mas que nesse processo de fragmentação avançam”.

Outro fenômeno mundial lembrado por Lavareda é o crescimento do autoritarismo no mundo. Afirmou que cerca de 40% dos eleitores brasileiros são favoráveis ou indiferentes a um regime autoritário, ressaltando sempre que esse é um movimento mundial. A razão para isso, disse ele, é uma decepção cada vez maior das populações com um sistema político que, embora desde o final dos anos 1960 viesse gerando riquezas e reduzindo desigualdades, passou a produzir efeitos negativos a partir da crise de 2008. “Isso tem esgarçado os links psicológicos da população com a democracia”.

Para o cientista político, as redes sociais têm tido papel fundamental no entendimento político das pessoas e provocado fragmentação do eleitorado. “A perda de importância dos meios de comunicação em massa, em que todos eram expostos praticamente às mesmas notícias, ao mesmo entretenimento, à mesma informação sobre o mundo, isso foi substituído pela atomização dos canais de informação”.

Especificamente sobre o pleito presidencial deste ano, Lavareda entende que o PT “muito provavelmente vai estar no 2º turno” e que boa parte do prestígio do partido, da sua imagem “foi restaurada à medida que o PT foi deslocado para o campo oposicionista”.

Ele disse que a tendência é de que Marina Silva continue a perder votos, seja para Haddad ou Bolsonaro. “A Marina vem sendo subtraída em votos de dois lados. De um, ela vem perdendo o voto lulista conforme Haddad sobe nas pesquisas. O outro lado é o voto evangélico. Ela nunca fez campanha voltada para esse público, mas ele se identificava com ela. Agora, ela perdeu metade dessas intenções para Jair Bolsonaro”.

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Por ACSP