
Nesta terça-feira (6), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por meio da São Paulo Chamber of Commerce e do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx), realizou, na sede da entidade, o seminário “Panorama do Comércio Exterior Brasileiro”, evento que analisou os contextos americano e internacional após o tarifaço aplicado pelo governo de Donald Trump. No evento, palestraram Lucas Ferraz, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e atual diretor do Centro de Estudos de Negócios Globais da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Luis Carlos Szymonowicz, superintendente de Compliance e Governança da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX) e presidente da Comissão de Comex da OAB/SP.
Com as presenças de empresários, exportadores e membros da ACSP, o encontro apresentou um panorama da guerra comercial após a administração Trump elevar as tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos estrangeiros. Lucas Ferraz, o primeiro a palestrar, apontou que, com o aumento unilateralmente das tarifas, os Estados Unidos podem criar um comércio mais fechado, o que prejudicaria suas próprias indústrias. Ele destacou ainda que “o protecionismo americano não começa com Trump, os movimentos, os primeiros sinais [de protecionismo] vêm desde o governo Obama”.
Especificamente sobre a guerra comercial com a China, Ferraz considera um erro a medida tomada por Trump ao colocar tarifas de 145% sobre os produtos que entram nos EUA. "Na verdade, quem tem muito mais a perder com essa guerra são os EUA porque é muito mais fácil você redirecionar a exportação do que você arrumar outro convencedor para os EUA”, disse. Foi ressaltado que hoje os chineses monopolizam várias cadeias produtivas, tornando difícil para os norte-americanos substituírem esse fornecedor.
Na apresentação, ele mostrou ceticismo sobre o sucesso das negociações sob a liderança de Trump, duvidando da sua habilidade em entender o sistema de comércio internacional e a importância de negociações baseadas em regras. “A China, dessa vez, não vai sentar para negociar a qualquer preço, não é o presidente que negocia tarifa com o outro presidente", indica. Ele enfatiza que "a China parece saber disso muito bem e dificilmente vai mudar a sua posição".
Com o embate entre norte-americanos e chineses, quem vem se beneficiando é o agronegócio brasileiro, especialmente nas exportações para a China. Atualmente, o País é o maior fornecedor de alimentos para a China. “O Brasil sai de 17,5% das importações totais de alimentos da China e vai para alguma coisa ao redor de 25%”. Hoje, os EUA representam 13% das importações chinesas de alimentos.
Sobre as oportunidades comerciais que o Brasil pode explorar diante do atual cenário global, Ferraz mencionou os segmentos têxteis e calçados, onde a China é forte, mas impactada com as tarifas impostas pelo governo americano a produtos chineses, exportação de maquinário e eletroeletrônicos, aceleração de acordos comerciais com outros blocos, por exemplo, Mercosul com a União Europeia, e tratado com outros países, entre eles, Canadá, México Vietnã, Indonésia e Índia.
Já na palestra de Luis Carlos Szymonowicz, o convidado abordou os principais desafios culturais que os empresários brasileiros enfrentam para atuar no comércio internacional. Um dos apontados é a resistência em buscar mercados internacionais, com a tendência em firmar-se em mercados locais ou regionais em vez de se aventurar em mercados externos.
Szymonowicz destacou que outro desafio é mudar a tendência de os empresários brasileiros serem percebidos no exterior, principalmente, como produtores de commodities. “Você vai ter que entender quais são as oportunidades que são oferecidas. Veja, como nós somos vistos, falando como dirigente de uma Câmara de Comércio? Somos vistos como produtores de commodities, ponto final. É isso”.
Outro problema mencionado pelo palestrante é que o Brasil possui um dos ambientes regulatórios mais complexos do mundo, o que pode dificultar a internacionalização das empresas.
A guerra comercial e as mudanças na Organização Mundial do Comércio (OMC) têm impactado bastante as estratégias de comércio exterior das empresas brasileiras. Entre os efeitos, estão o incentivo de explorar mercados alternativos; agregar valor localmente em países com regulamentações que favorecem a produção interna; busca de capacitação e formação contínuas para lidar com as mudanças rápidas e complexas no cenário de comércio internacional; e o desenvolvimento de estratégias a longo prazo.
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Por ACSP - 06/05/2025