Comitê de Avalição da Conjuntura faz a última reunião de 2025

O Comitê de Avaliação da Conjuntura fez a última reunião do ano na quinta-feira (27) com a coordenação do economista Edward Lamberg e a participação do economista-chefe do Instituto de Economia da ACSP, Marcel Solimeo. A reunião de conjuntura fez uma avaliação mensal das tendências da macroeconomia, com análises setoriais dos membros do Comitê.

Números da economia
A reunião foi aberta com a apresentação de números e indicadores para o último trimestre do ano de 2025 e o primeiro trimestre de 2026. Quando se fala em números do varejo a situação em 2025, comparada a 2024 foi de queda com uma redução das vendas em torno de 1,9 em 2025.
A tendência para o primeiro trimestre de 2026, de acordo com o Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEFG), é de que a redução de vendas ainda permaneça, mas de maneira moderada, com setores como autos e bens duráveis sofrendo com a falta de crédito e taxa Selic ainda alta. Com relação ao PIB o que temos é a desaceleração gradual com os indicadores macro mostrando que vamos terminar o ano em torno de 2%. Já no primeiro trimestre, por conta das incertezas fiscais o Brasil deve enfrentar um cenário mais desafiador no mercado externo no primeiro trimestre de 2026.

Nova tabela de IR
Existe a possibilidade da nova tabela do IR provocar um impacto que pode levar a uma eventual alta no consumo. Deve-se considerar também a questão dos precatórios que pode aumentar o poder de compra e as vendas no varejo. São indicadores de um possível aumento na renda. No entanto, deve-se levar em consideração o nível de endividamento da população. De qualquer forma, o impacto positivo para o consumo deve acontecer a partir do final de janeiro. De qualquer forma, em relação ao ano de vem, as eleições sempre podem provocar um grau de incerteza.

Indústria
A indústria vem perdendo fôlego. No ano passado cresceu 3.1% e vai fechar 2025 com 1,5% e continua caindo. No quarto trimestre de 2024, a indústria cresceu 3,2, e no terceiro trimestre desse ano, 0,2. O dado de crescimento leva em consideração indústria extrativa e de transformação. A indústria extrativa é que puxa o crescimento com 4.1%, enquanto a indústria de transformação cresce 0,5%, de janeiro a setembro.

Por outro lado, existe o efeito do tarifaço que atingiu alguns segmentos como produtos de metal, ainda taxado, com queda de 6,1% no comparativo agosto e setembro 2024/2025 e a madeira que caiu 14% nesse mesmo período. Para os segmentos mais dependentes do crédito, os efeitos das taxas de juros são muito impactantes. Por exemplo, no caso do Bens de Capital, crescia 14% no quarto trimestre do ano passado e caiu 2,4% no terceiro trimestre desse ano. Bens duráveis cresciam 17% em 2024 e nesse ano caiu 1,2%. Os efeitos da alta taxa de juros tem sido muito evidente nesses setores.

O que tem ajudado é o setor exportador que cresce na faixa de 5% ao ano, impulsionado pelo aumento de 41% de exportações para Argentina em outubro. Principalmente a produção de automóveis, que no mercado interno vem sofrendo por conta do crédito escasso e juros altos.

Índice de confiança da indústria está ruim com queda de 9 pontos. No ano o crescimento deve ser de 1% para a indústria de transformação, 4% para a extrativa e 1% para a indústria de transformação. É importante lembrar que a participação da indústria extrativa no total da produção industrial é de apenas 8%, enquanto a de transformação responde pelos restantes 92%, no mercado interno. Já na exportação a participação da extrativa é maior.

Tarifaços

A indústria teve uma acomodação nas tarifas, mas a indústria calçadista, por exemplo, ainda está sofrendo com preços e a indústria têxtil sofrendo pela concorrência. Hoje a indústria têxtil depende da importação, o que é ruim para o setor. A mão de obra para o setor ainda é escassa, mas já se configura uma melhora. No têxtil muita empresa endividada com um mercado interno e externo com perspectivas iguais para o próximo ano, principalmente em função da escassez do crédito e as altas taxas de juros.

Agro

O crescimento de agricultura de 7,8% em 2025 se justifica com o crescimento da produção de grãos. Especialmente da soja, que produziu 170 milhões de toneladas com previsão de crescimento da produção para o próximo ano. O problema é a da falta de chuva em várias regiões produtoras na Bahia, Tocantins, Piauí que apresentam lavouras atrasadas que vão acabar perdendo produtividade e pode reduzir a previsão de produção. O Brasil continua sem um seguro adequado para agricultura, além da logística ruim, as estradas para os portos estão além dos seus limites.

A área agrícola brasileira deve crescer 2,3 % com novas áreas cultivadas atingindo 80 milhões de hectares. Mas o setor ainda sofre com crise provocada pelos investimentos realizados por conta der arrendamentos e máquinas com preços muito altos, além dos impactos dos tarifaços e redução dos preços internacionais, que tiveram como consequência recuperações judiciais entre as empresas do agro. O que se nota é cada vez mais a necessidade irrigar as lavouras. Na verdade, o que pode atrair mais investimentos para o setor , assim como todos os outros setores da economia, é a estabilidade fiscal do país, cada vez mais necessária.

Carne

A carne bovina se adaptou ao tarifaço e a carne brasileira nos EUA é muito adequada para a produção de hamburguer por ser uma carne magra. Produtores estão trabalhando em parceria com o Ministério da Agricultura na abertura de novos mercados. Em outubro, a exportação de carne brasileira cresceu 75% em 20 dias do mês, porém isso não se reflete no mercado por conta do cartel internacional, o domínio de mercado pelas indústrias frigoríficas.

Etanol

O Brasil é o maior exportador de etanol do mundo, mas o preço internacional vem caindo, com potenciais novos produtores, como a Índia, ressurgindo. No Brasil, a produção do etano de milho também vem crescendo chegando a 19 milhões de litros contra 39 milhões do etanol de cana de todo o etanol produzido no país, em pouco tempo. A expectativa é que em poucos anos ele chegue a 30 milhões e até 50% da produção total.
Na área agrícola que acendeu esse ano 8% pode crescer algo em torno de 1% em 2026. Operar o mercado de commodities com esses juros e os problemas do agro é preocupante.

Crescimento

Taxa de crescimento no Brasil cai desde 1980 e a taxa de investimento cai em função da retração do investimento público. O Brasil tem um ciclo de sobe e desce que não dá uma perspectiva de efetivo crescimento com uma taxa de investimento em queda. Com uma taxa de juros fora de esquadro, o Comitê acredita que não se resolverá nenhum problema estrutural e assim será mais difícil posicionar a economia numa posição mais competitiva.

Por ACSP - 28/11/2025