Embaixador Rubens Barbosa palestra em reunião do COPS

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) sediou nesta segunda-feira (7) a palestra “O Lugar do Brasil no Mundo – Estratégia do Brasil”, ministrada por Rubens Barbosa, ex-embaixador em Londres e Washington, e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE), realizada durante a reunião do Conselho Político e Social (COPS). Ele abordou as transformações que o mundo está vivenciando nas áreas da economia e política internacional, e o posicionamento do País no atual cenário global.

Barbosa iniciou a sua palestra discutindo o cenário geopolítico internacional, analisando uma linha temporal entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a primeira gestão Donald Trump, que se tornou completamente diferente. Antes da eleição do presidente norte-americano, o contexto mundial era caracterizado pelo liberalismo e pela previsibilidade nas relações econômicas e políticas sob a liderança americana. Contudo, ocorreu uma mudança drástica, acentuada com o segundo mandato de Trump, onde prevalecem o unilateralismo e o protecionismo.

“Estamos vendo o tarifaço com um total desaparecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, disse. “Na área econômica, o que estamos vendo nesses últimos seis meses transforma totalmente o cenário de 1945 até agora. E isso coloca grandes desafios para todos os países e cria uma incerteza que não existia”, complementou.

O palestrante revelou que a política tarifária dos EUA acabou com as regras e findou as previsibilidades das normas que eram fixadas na área econômica e comercial pela OMC, Banco Mundial e Fundo Monetário. “Essas instituições todas foram esvaziadas”, apontou. “No cenário global, na área econômica, o liberalismo que prevaleceu depois da guerra, com todas as instituições e regras, hoje, desapareceu”.

Com essa nova ordem global, uma das consequências foi o fortalecimento das regiões e a crescente negociação entre blocos comerciais. Além disso, de acordo com Barbosa, organizações políticas acabam se expandindo, como no Brics, que, apesar de heterogêneos e com dificuldades de consenso, cresceram para 21 membros e possuem um PIB superior ao do G7.

“O grupo [Brics], originalmente integrado por cinco países, inclusive o Brasil, agora foi expandido, tem 21 membros, são 11 membros permanentes e 10 parceiros”, explicou. “É um bloco que está atraindo os países, tem 35 na fila para entrar”.

Sobre a posição do Brasil nesse cenário, o ex-embaixador salientou que, apesar de ser uma das 10 maiores economias, carece de uma visão de inserção no mundo, focando excessivamente em problemas internos e carece de um documento claro que oriente sua posição externa ou seu desenvolvimento sustentável.

Barbosa propõe dois objetivos nacionais ao Brasil. O primeiro, focado no desenvolvimento, incluindo o crescimento econômico, reformas estruturais, avanços tecnológicos e agroindústria, e o segundo, voltado à segurança externa e interna.

Sobre a inserção do País no mundo e a segurança externa do Brasil, o palestrante identificou quatro setores que precisariam ser trabalhados: saúde, educação, tecnologia e meio ambiente. Baixa produtividade da mão de obra, falta de competitividade industrial, alta concentração de produtos e mercados de exportação estão entre as vulnerabilidades que expõem o Brasil a riscos externos significativos.

“Com a guerra da Ucrânia, a gente ficou sabendo que 85% dos fertilizantes vêm do exterior, da Rússia e Bielorrússia. E 55% da ureia vem do Irã”, alertou.

Contudo, Barbosa citou que o Brasil tem um grande potencial em áreas como política ambiental e mudanças climáticas, segurança alimentar e transição energética, mas que “deveriam ser melhor exploradas”. Contudo, criticou a perda de autonomia e a falta de capacidade de iniciativa do Itamaraty, declarando existir “um crescente esvaziamento do Itamaraty por questões ideológicas e partidárias”.

“Hoje, recebemos uma aula sobre o atual cenário geopolítico. O embaixador Rubens Barbosa trouxe importantes pontos para o debate, muitos que até desconhecíamos. Foi uma honra recebê-lo na ACSP”, disse Roberto Mateus Ordine, presidente da ACSP.      

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Por ACSP - 07/07/2025