Na última sexta-feira (25), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) foi palco de palestra-debate sobre educação, em um evento organizado pelo Comitê de Civismo e Cidadania (COCCID), em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), na Plenária da Casa, para celebrar o “mês dos professores”. Entre os palestrantes convidados, o desembargador José Renato Nalini, ex-secretário estadual da Educação; João Tomás do Amaral, presidente do IHGSP; e Edimara de Lima, psicopedagoga membro do COCCID e presidente da Organização Montessori do Brasil.
Samir Khoury, vice-presidente da ACSP e coordenador do Comitê, mediou o evento – com transmissão via YouTube – ao lado de Adolfo Savelli, coordenador-adjunto do COCCID, e palestrantes.
Das 15h às 17h, cerca de 40 pessoas acompanharam as apresentações dos três palestrantes dentro da temática “Raízes da Educação na Economia e Ecologia”, cujas exposições focaram o panorama da educação no Brasil, a diferença entre educação e escolarização, qualidade do ensino e perfil do alunado, formação de docentes, currículo desatualizado dos cursos de Pedagogia, além de responderem às perguntas do público referentes à educação inclusiva, inteligência artificial em sala de aula, fuga de talentos e dificuldades de comunicação no processo de aprendizagem.
“A ACSP está trazendo para o debate pessoas de notório saber para falar da Educação, que vem evoluindo, de tal monta, a ponto de precisarmos revisitar, inclusive em sala de aula, a Economia e a Ecologia, duas áreas que devem constar no currículo escolar”, explicou Khoury.
Para João Tomás, hoje, no Brasil, há uma “exacerbação do uso da palavra educação”, que é confundida com o conceito de “escolarização”. “Na atualidade, as teses, pesquisas, textos e estudos não tratam de educação, mas apenas do ambiente escolar”, contextualizou, acrescentando que não se vê, atualmente, uma educação voltada a valores, mas sim à cidadania, o que para ele é um erro. “A Educação tem que ser para [lapidar] a personalidade, para o indivíduo, com foco nas pessoas, preparando-as com conhecimento adequado para as mudanças de perspectivas na sociedade, sobretudo às relacionadas à tecnologia, que vem transformando o mercado de trabalho”, pontuou.
Tomás abordou ainda como a economia entra no processo educativo, apontando que organismos de caráter econômico estão falando mais de educação do que os de representatividade educacional. “Há economista falando de educação e não tem educador tratando do assunto. As referências da educação estão vindo da economia. Por exemplo, o PISA [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes] é o mais importante programa de avaliação da educação e quem o mantém são os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. É a OCDE quem vai concedendo referências. Ou seja, quem dita alguns caminhos é o processo econômico”, esclareceu.
Edimara, em sua apresentação, assentiu com a visão de Tomás, mas pontuou que educação, economia e ecologia estão ligados. “Se nós não tivermos a educação também preocupada com a ecologia, o que vai acontecer na próxima seca? Não dá pra esperar! Precisamos de mentes com uma flexibilidade cognitiva e uma ação conjunta [entre as três áreas]. Ora em algum momento a educação vai ser prioridade, no momento seguinte a ecologia, e isso melhora a economia, que permite investimento em educação. Então, são conjuntos que se interligam o tempo todo”.
A psicopedagoga criticou a qualidade do ensino, no País, afirmando que a causa está no processo de formação do docente, cujo o currículo de Pedagogia das universidades brasileiras está, “no mínimo, meio século atrasado”.
“Nós precisamos provocar as universidades para atualizarem currículo na formação. Eles estão formando professor do século XX. E nós estamos em meados do XXI. É um professor que não tem mais que se preocupar com acúmulo de conhecimento, mas é um aluno que precisa aprender a pensar e que consiga ter adaptabilidade”, revelou.
Nalini, que hoje é secretário de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, fez um balanço de sua gestão à frente da Secretaria Estadual de Educação, de 2016 a 2018, na administração do ex-governador Geraldo Alckmin. Pontuou que seu projeto mais exitoso foi o “Adoção Afetiva”, que aproximou famílias e comunidades das escolas públicas, permitindo que adotassem as unidades escolares, transformando suas realidades.
O ex-secretário estadual confidenciou que ficou “impressionado quando se deparou com alunos da 8ª série que não sabiam ler nem escrever” e aproveitou para compartilhar sua visão acerca das finalidades da educação: “A primeira é apreender o conhecimento de forma permanente, ao longo da vida; a segunda, capacitar para o mercado de trabalho; e a terceira é o exercício da cidadania, formando gente com sentido de pertencimento, justamente para contribuírem com as mudanças climáticas”, pontuou.
Com esse gancho, Nalini aproveitou para expor as principais ações de sua atual secretaria, que foi criada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes para adaptar e preparar a cidade para enfrentar as catástrofes ambientais que ainda vão ocorrer.
O secretário elencou como destaques de sua gestão: limpeza de córregos e bueiros; jardins de chuva; piscinões; levantamento hidrológico das regiões de São Paulo para identificar onde ocorrerá algum evento climático drástico e antecipar ações; Plano de Previsão de Chuvas de Verão; descarbonização do transporte; mais mil hortas comunitárias, dentro e fora das escolas públicas; e um hub de iniciativas comunitárias para a troca de experiências e iniciativas em prol da preservação do meio ambiente, mudanças climáticas etc.
Antes do encerramento da palestra-debate, Francis de Azevedo, membro do COCCID, declamou o poema “Dia do Professor”, do saudoso Paulo Bonfim, conhecido como “o príncipe dos poetas” em São Paulo. Na sequência, Samir entregou medalhas condecorativas aos palestrantes, agradecendo-os pela participação e indicou o próximo evento, que será realizado no dia 26 de novembro, com a temática “Centenário da Verticalização de São Paulo”.
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Por ACSP