
O Comitê de Avaliação de Conjuntura realizou a sétima reunião do ano na quinta-feira (28), na sede da ACSP, no formato online. Coordenado pelo economista e professor Edy Luis Kogut, o comitê tem a participação do economista-chefe do Instituto de Economia da ACSP, Marcel Solimeo, além do grupo de especialistas setoriais que fazem uma avaliação mensal da conjuntura econômica. Como não poderia deixar de ser, os impactos do tarifaço na economia brasileira dominaram os debates.
Agro
De um modo geral, o agro vem sendo afetado pelas taxas de 50% dos Estados Unidos, porém os pequenos agricultores são os mais atingidos, especialmente os produtores de frutas, flores e produtos de couro (curtumes).
No setor de carnes, a situação é bem melhor com a abertura de novos mercados e negociações que já ocorriam antes do tarifaços, mas principalmente pelo crescimento do volume de exportação para o México, o segundo mercado para as carnes brasileiras, que deve absorver o que não está sendo exportado para os EUA. Em relação à soja, a preocupação é com a concentração de exportação do produto para a China, país que compra 70% da produção brasileira. Além disso, os EUA estão negociando um aumento no fornecimento para os chineses, o que produz mais insegurança entre os produtores brasileiros.
Mas quando se avalia a produção agrícola brasileira, os números e as perspectivas continuam bastante positivos. Hoje o agro ocupa 80 milhões de hectares no território brasileiro, e em 2025 já cresceu 2,9% de área, comparado ao mesmo período de 2024. Ainda existe um grande potencial de expansão da área de cultivo no território brasileiro.
Por outro lado, os especialistas destacam que as mudanças do poder nos EUA têm provocado o fim do período da globalização e o início de uma guerra comercial que afeta a agricultura brasileira que, no entanto, ainda é um dos principais fornecedores de alimentos no mundo. Em 2025, por exemplo, a produção foi recorde com 250 milhões de toneladas de grãos. No entanto, do ponto de vista institucional a situação se complica se for levado em consideração o confronto com a política comercial dos EUA. Alguns setores como a laranja, papel e celulose estão preservados, todavia de um modo geral tudo ainda está muito indefinido para o agro brasileiro, sem contar com as altas taxas de juros, inadimplência crescente e menor oferta de crédito.
Indústria
A indústria extrativa e de transformação cresceu 1,2 no primeiro semestre de 2025, contra 3,1 no mesmo período de 2024, uma evidente desaceleração, também consequência do efeito defasado de política monetária. Os setores mais dependentes de crédito têm sofrido uma desaceleração mais forte, como por exemplo, o setor de bens de capital e bens de consumo. No quarto trimestre do ano passado o setor cresceu 14% e no segundo trimestre de 2025 caiu 1,2%. Bens de consumo também sofreram queda: 17% no quarto trimestre de 2024 e 5,5% no segundo trimestre de 2025. A indústria automotiva que vinha crescendo, caiu 3,6% em julho de 2025 sem relação a julho de 2024.
O índice de confiança entre empresários da indústria também vem caindo bastante, como efeito de taxa de juros e tarifaços que provocam muita incerteza. Exportação de máquinas deve cair a zero, assim como setor calçadista, moveis, etc. Por enquanto, as medidas do governo são pouco eficientes. O desemprego nesses setores mais afetados deverá ser grande, apesar das medidas do governo. Uma saída será promover acordos diretos que poderão ser feitos com parceiros americanos. Ainda não se enxerga soluções imediatas. A indústria extrativa continua crescendo, mas os setores de têxtil e calçados devem procurar acordos nos EUA que possam mitigar a expectativa de queda nas exportações. Na indústria de embalagem o impacto poderá ser menor com o redirecionamento de produtos para o México.
Comércio
O Dia dos Pais é uma das principais datas promocionais do varejo brasileiro movimentando, tanto o comércio tradicional como o varejo eletrônico. Na semana do Dia dos Pais o varejo eletrônico faturou 7,6 bilhões, crescimento de 12,5% em relação a data do ano passado. As principais categorias de produtos mais vendidos foram: eletrodomésticos com faturamento de 691 milhões, telefonia com 627 milhões, setor de saúde (medicamentos, suplementos, cosméticos) com 539 milhões. O varejo brasileiro faturou 1,3 trilhões de reais. No setor de marketplace os destaques de sempre: Mercado Livre, Magalu, Shoope, Amazon e Casas Bahia. O ecommerce representa 18% do varejo brasileiro.
Mercado financeiro
O fim do livre comércio e da globalização promovida pelos EUA é algo inédito. Só nos anos 1930 se viu algo similar. Política interna e externa também tem muita influência sobre os resultados de um mercado que começa a refletir as instabilidades de um momento de desconstrução do sistema de comércio internacional. Embora a lista de produtos não taxados seja bastante extensa, por outro lado o risco sempre existe. De qualquer forma, é importante levar em consideração a rede tecnológica que une o mercado mundial. PIB mostra sinais de queda, empregos estáveis, taxa de juros continuam altas em função do baixo efeito da política monetária na queda da inflação. A atividade econômica, por outro lado, deve garantir a queda da taxa de juros.
O crédito caiu 1,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. Com maior oferta para a Pessoa Jurídica (PJ). A inadimplência vem crescendo. Em relação ao futuro, a política de Trump pode não permanecer em função de queda de popularidade e pressão do congresso, etc.
Dependência tecnológica
A dependência tecnológica do Brasil também fez parte da preocupação dos especialistas. Tanto o setor privado quanto o público dependem da aquisição de softwares, uso da nuvem e equipamentos de Bigh Techs americanas, limitando a autonomia e a soberania digital da nação. É evidente a necessidade do desenvolvimento de uma tecnologia brasileira que garanta mais segurança e garanta o desenvolvimento do País.
Por ACSP - 29/08/2025