A baixa participação de mulheres em posições de liderança, seja no setor público ou privado, foi tema central da abertura do 3º Women Enterpreneur Forum (WeForum), que reuniu mais de 600 empresárias de 19 países, na noite de segunda-feira, 25, em Brasília.
Diferenças salariais e jornadas múltiplas de trabalho são algumas das barreiras que precisam ser superadas. Nesse contexto, é crucial a construção de políticas públicas que, de fato, contemplem as demandas de uma população plural para, assim, diminuir as assimetrias de acesso ao poder.
Ao abrir o evento, Ana Claudia Badra Cotait, presidente do Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), destacou a importância do fortalecimento de parcerias e da união de forças para que cada vez mais mulheres consigam alcançar posições de tomada de decisão.
"Com seus pequenos negócios, essas mulheres promovem o comércio varejista, muitas vezes atuam em mais de um ramo, ampliando a sua vocação a cada dia. Precisamos mudar panoramas, destinar orçamentos. Mulheres empregando mulheres impulsionam ainda mais nossa rede", diz.
Diretora de Negócios da Apex Brasil, Ana Paula Repezza diz que a luta por uma sociedade mais igualitária deve começar dentro das próprias organizações. Hoje, um ano após o lançamento do Compromisso de Equidade de Gênero da instituição, Ana Paula diz que 50% das posições de liderança na ApexBrasil são ocupadas por mulheres.
Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) mostra que as micro e pequenas empresas são responsáveis por 72% do emprego do país. No entanto, apenas 30% dos empregadores e 35% dos proprietários de empresas no Brasil são mulheres.
Além disso, Morgan Doyle, representante do Grupo BID no Brasil, destaca que esse cenário negativo é complementado por uma forte desigualdade no acesso ao crédito. Segundo ele, as empresas lideradas por mulheres e outros grupos vulneráveis normalmente são mais limitadas tanto pela oferta quanto pela procura de recursos financeiros.
Doyle diz que para colocar crédito nas mãos das mulheres brasileiras é preciso avançar na compreensão das necessidades do segmento sob uma perspectiva de gênero e na construção de soluções adequadas envolvendo políticas públicas eficazes. "Não faltam mulheres líderes, faltam mulheres na liderança", diz.
Ainda segundo o executivo, outros estudos do BID evidenciam uma correlação positiva entre mais mulheres em cargos de decisão pública e maior crescimento econômico. Em países em desenvolvimento, o aumento da presença de mulheres na política resulta em melhorias dos serviços públicos, sobretudo nas áreas de educação e saúde.
Ações estruturadas em outros países, que também enfrentam a disparidade de gênero em seus governos, já indicam possíveis caminhos. De acordo com Natalia Martínez Páramo, líder da EISMEA – European Commission, é possível desenvolver novas conexões e aprendizados que aliam empreendedorismo e inovação por meio de programas gratuitos que promovem o crescimento e a internacionalização de pequenos e médios negócios.
"Incluir mulheres no comércio exterior é uma forma de gerar oportunidades econômicas capazes de mudar a vida delas, de famílias, de empresas, de comunidades, e, claro, do Brasil. Empresas que exportam são mais inovadoras, mais produtivas, resilientes, e remuneram melhor seus empregados", diz.
Sharmilla Navmit Govind, diretora-geral do NDB, afirma que desigualdade de gênero e inclusão são os maiores desafios dos Brics. Segundo ela, a melhor forma de incluir e criar políticas públicas pensando na equidade de gênero é olhar para o início de tudo. Ou seja, antes de olhar para as mulheres é preciso olhar para as meninas e ensinar sobre a opção de ser uma empreendedora no futuro, seja como disciplina nas escolas ou inspirando novas gerações com bons exemplos.
Permitir o acesso ao capital, garantir empoderamento econômico, criar oportunidades, ter um programa de educação empreendedora continuado e orientá-las sobre finanças são aspectos fundamentais para transformar a realidade atual enfrentada pelos negócios femininos no Brasil, na opinião de Sharmilla.
Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), reafirmou o compromisso da instituição na implementação de iniciativas que possam fortalecer a participação de mulheres no empreendedorismo e também nos negócios internacionais por meio da exportação.
Hoje, apenas 14% das empresas exportadoras do Brasil são lideradas por mulheres, de acordo com relatório preparado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
"As associações comerciais estão muito próximas das mulheres e apoiam de forma decisiva a mulher empreendedora. Não vamos permitir que temas retrógrados impeçam o avanço delas. E peço às mulheres que não se restrinjam ao negócios, mas que usem sua voz. Não sejam só empreendedoras, sejam líderes", diz.
O encontro global de mulheres empreendedoras, que continua nesta terça-feira, 26/3, é organizado pelo CMEC, pela CACB, Câmara de Comércio e Indústria da Mulher Indiana (WICCI) e Confederação Nacional da Indústria (CNI), com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
IMAGENS: CACB
Por ACSP