
O ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia durante a gestão de Paulo Guedes, Marcos Troyjo, foi o palestrante da reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV/ACSP), com a palestra “O Brasil e a Nova Geopolítica com o Acordo Mercosul-União Europeia”. Troyjo fez uma exposição sobre os principais pontos do acordo e os benefícios que ele deverá trazer para as exportações brasileiras.
O comitê é coordenado pelo economista e professor Edy Kogut, que fez a apresentação e a intermediação do evento, e contou na bancada com a presença do presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, o economista-chefe da ACSP, Marcel Solimeo, o secretário de articulação internacional e projetos estratégicos de Santa Catarina, Paulo Borhausen, e o presidente em exercício da Fecomércio, Ivo Dal’Aqua Junior.
Ordine abriu a palestra falando sobre a importância do evento e do acordo Mercosul/União Europeia: "Essa concretização é um momento muito importante para o comércio exterior e a ACSP vai ter um papel fundamental nesse processo”, afirmou.
A palestra
Marcos Troyjo abriu sua fala lembrando como a consolidação do acordo Mercosul–União Europeia será importante para o Brasil. “Será um dos eventos mais transformadores para a economia brasileira e da região, especialmente se levarmos em consideração a taxa de câmbio, a inflação e a política de juros. Do ponto de vista externo, o acordo também é muito importante se pensarmos em visibilidade e construção de estratégias”.
Cenário Internacional
Para Troyjo, o Brasil deve levar em consideração uma análise que pondere suas vantagens competitivas, nesse novo cenário. O País vai precisar fazer uma análise SWAT, sistema utilizado nas estratégias de marketing e administração, que avalia os pontos fortes e fracos de uma empresa. “Existia a expectativa de um mundo mais integrado como consequência do processo de globalização que se consolidou nos anos 1990. Naquela década, vários tratados e acordos de integração foram assinados, entre eles, o tratado de Maastricht, que consolidou o bloco da União Europeia, o de Assunção, que iniciou o Mercosul e o acordo do NAFTA, entre Mexico, EUA e Canadá. “
Em relação ao agronegócio brasileiro, o economista apontou que só a partir dos anos 90 o setor se tornou tão importante no mercado mundial, superando grandes países produtores, como a Argentina uma potência do setor até meados do século XX. “O Brasil tem uma forte tradição protecionista no comércio exterior e isso, ainda permanece, mesmo se consideramos o sucesso do agronegócio”, ressalta. Este ponto, de acordo com o professor, impediu que um acordo do Mercosul com a União Europeia fosse adiante e destaca que o Brasil era protecionista no setor industrial e os Europeus no agronegócio”.
Também dificultou o avanço das negociações a ascensão dos países asiáticos. Japão, Coreia do Sul, tigres asiáticos e a China começavam a dominar o mercado internacional. Hoje, o Brasil tem 50% das suas exportações para a Ásia. Para Troyjo isso representa uma certa vulnerabilidade, um quadro que não deve permanecer. “O Brasil precisa diminuir a dependência do mercado asiático e necessita manter e ampliar suas parcerias com os principais países do mundo, entre eles os Estados Unidos, maior economia do mundo com quem conservamos um déficit comercial, ao contrário da maioria das nações. É um trabalho para a nossa diplomacia comercial”.
Novo mercado com o acordo
Troyjo destaca, portanto, a importância do acordo Mercosul-União Europeia, nesse sentido. “Não é fácil fazer, mas precisamos tentar, pois a União Europeia tem um mercado que representa o dobro da população brasileira com uma renda bem mais alta do que o Brasil. Estamos falando de uma economia maior do que a China. Temos que aproveitar melhor este mercado.”
Para o economista, o Brasil precisa de mais investimentos diretos e os europeus são os grandes investidores no Brasil, além dos Estados Unidos e da China, mais recentemente. A UE continua sendo uma fonte fundamental de investimento direto. O acordo deve ser muito importante nesse sentido conforme ele explica. “Fechar-se para o mundo é o caminho do fracasso. A abertura comercial e o investimento externo são fundamentais para o desenvolvimento econômico e foram pontos de partida das grandes mudanças que ocorreram em países da Asia, por exemplo.”
O economista lembra também que o Brasil também precisa fazer mudanças internas, para Troyjo uma economia ainda muito fechada. “Além dos acordos internacionais, precisamos fazer um acordo com o nosso próprio País: melhorar as condições internas, com equilíbrio fiscal, reduzir taxas marítimas, enfim toda a burocracia que atrapalha a dinâmica do nosso comércio exterior.”
ACSP na linha de frente
Encerrando o evento do Comitê de Avaliação de Conjuntura, o presidente Ordine, agradeceu a palestra do professor Troyjo falando sobre a construção de um projeto na ACSP, visando o preparo e a qualificação de pequenas e médias empresas para atuação no comercio exterior. “Esse evento que conta com a presença de líderes de outras entidades empresariais, como a Fecomercio, Fiesp e outras é o início de um novo tempo para as exportações brasileiras. Hoje, tivemos uma aula inaugural para enxergar o mundo de forma diferente. Vamos aproveitar para criarmos um trabalho efetivo sobre comércio exterior para as pequenas empresas, a ACSP terá um papel fundamental nesse processo”, completou.
Para o secretário Borhausen, um dos membros da mesa, a união de forças será fundamental. “Estamos iniciando um novo processo com uma agenda do reconhecimento do mercado europeu e a avaliação dos setores que devem ser direcionados para esse mercado”, finalizou.
Por ACSP - 10/10/2025