
Nesta terça-feira (7), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em parceria com a Agência DC NEWS, Conselho do Varejo e Tendências Consultoria, realizou, na sede da entidade, o seminário “Entre o Bolso e a Emoção: Os Desafios do Varejo para Conquistar o Bolso do Consumidor”, iniciativa para aproximar varejistas ao combinar networking e conteúdo qualificado entre lideranças por meio de especialistas convidados. O evento recebeu os palestrantes Silvio Campos Neto, sócio e economista-sênior da Tendências Consultoria, Estela Brunhara, diretora de Consumer Behavior & Brand Strategy na FutureBrand, e Ricardo Meirelles de Faria, economista-chefe da Linus Galena Consultoria Econômica.
No primeiro painel, foi abordado o tema “Perspectivas para o consumo: Fundamentos Econômicos”. Conduzido por Neto, ele apresentou uma análise sobre o cenário econômico brasileiro e suas implicações para o consumo e o varejo, considerando fatores globais e domésticos. Ele iniciou a sua exposição abordando, inicialmente, o contexto econômico global a partir do que está ocorrendo nos EUA e na China.
Falando do cenário norte-americano, o economista-sênior da Tendências Consultoria apontou a perda de força da economia dos Estados Unidos, maior incerteza institucional e fiscal, que aumenta a percepção de risco, resultando na desvalorização global da moeda estadunidense. “O dólar está caindo muito, esse é o grande recado. O dólar está fraco no mundo todo, em um cenário que nem era esperado no início deste ano, o que se imaginava era o contrário, mais forte à luz dessa agenda [econômica]”, disse. Neto ressaltou ainda que a moeda americana mais fraca é positiva para o consumo e varejo no Brasil, ao fortalecer a moeda nacional e aumentar o poder de compra na economia mundial.
Em relação à China, lembrou que o país asiático se tornou o principal parceiro comercial de grande parte do mundo, tomando o lugar dos EUA, e reforçando o quadro de competitividade dos chineses como produtores de bens. No entanto, segundo o palestrante, enfrenta desafios como questões demográficas, endividamento e excesso de capacidade produtiva, levando a exportar massivamente.
No que se refere ao cenário econômico brasileiro, Neto relatou que o Brasil vive um momento de recuperação da renda. Contudo, foi registrado um crescimento acima do potencial da economia, resultando em um mercado de trabalho mais "apertado", ou seja, com escassez e aumento de custos de mão de obra, impondo limites ao desempenho econômico. Quanto à inflação, o economista-sênior da Tendências relatou que, embora em desaceleração, ela permanece elevada, justificando as altas taxas de juros. “Ninguém gosta de uma taxa de juros dessa magnitude, realmente é muito elevada, mas ela só poderá cair conforme os sinais inflacionários apontarem para uma moderação”.
O palestrante observou que o crescimento do crédito encontra-se estabilizando, com os bancos mais cautelosos devido aos custos mais altos. Além disso, o endividamento familiar está relativamente estável, mas há um aumento nas linhas “mais problemáticas”, como cartão de crédito e cheque especial.
O painel seguinte foi conduzido por Estela Brunhara, diretora de Consumer Behavior & Brand Strategy na FutureBrand. Em sua palestra, ela abordou, entre outros tópicos, o comportamento do consumidor brasileiro na chamada "era da experiência", argumentando que, embora fatores econômicos e racionais sejam importantes, as marcas devem ir além de promessas, focando na entrega de experiências autênticas que gerem conexão emocional e valor.
Em sua apresentação, Estela salienta que a marca não é apenas comunicação de curto prazo, como, por exemplo, propagandas e campanhas, mas trata-se de uma visão de mundo, propósito e valores construídos a longo prazo por meio de mensagens, expressões e experiências, desde grandes corporações a pequenos negócios.
Hoje, o consumidor está mais exigente em sua relação com as marcas por conta do aumento do acesso à internet. Agora, é possível conhecer vários produtos e lojas, elevando a expectativa. Além disso, o cliente está mais racional e disposto a trocar de marca se uma alternativa oferecer melhor valor ou experiência.
“A régua das pessoas subiu muito nos últimos anos, tem muito mais acesso. Antes, tinha acesso às marcas que estavam ali no nosso bairro, no nosso entorno. Hoje, com a internet, a gente tem acesso a vendedores de comércio na China, a lojinhas mini do Instagram, que vendem para um monte de gente”, falou Estela.
A relação com as marcas "amadas e fiéis" mudou para a era da experiência. Atualmente, as pessoas querem vivenciar as marcas, mergulhar em suas histórias e ter um contato profundo. A palestrante expôs que, antes, a emoção gerava o desejo e levava à experiência. Hoje, a experiência real e a entrega geram a emoção e o encantamento, com as pessoas dispostas até a compartilhar seus dados caso isso resulte em personalização e valor genuíno, tais como recomendações e lembretes úteis, e não apenas spam.
Ricardo Meirelles de Faria, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), foi o último a palestrar no seminário. Ele trouxe projeções e resultados de consumo e varejo, além de uma análise do cenário econômico para o setor varejista brasileiro.
Meirelles disse que a economia brasileira apresenta um panorama de atividade "dual", com aspectos positivos e negativos. Do lado otimista, o palestrante ressaltou, entre outros tópicos, o mercado de trabalho, com projeção na queda da taxa de desemprego, encerrando 2025 em 5,1% e mantendo-se em cerca de 5% em 2026, um recorde de baixa, e a valorização do real, que aumenta o poder de compra, embora a sustentabilidade dessa tendência até 2026 seja uma incógnita.
Entre os aspectos negativos, o palestrante mencionou que a inadimplência da carteira de crédito da pessoa física está em ascensão, passando de 3,5% para 4,5%, trazendo preocupação às instituições financeiras e varejistas que oferecem crédito, e a situação fiscal permanece apertada, que, paradoxalmente, a valorização do real piora a relação dívida líquida/PIB, pois o setor público é credor em dólar. “Para quem viveu a década de 80 e 90, hoje dizer que o setor público é credor em dólar é uma coisa meio paradoxal. Então, essa valorização do dólar recente afetou a relação dívida líquida/PIB”, apontou.
As projeções do varejo para 2025 e 2026 indicam uma desaceleração, com quedas significativas em vários segmentos no segundo semestre deste ano. No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, é esperada uma retração de 0,6% em 2025 e uma “quase estabilidade”, com um crescimento de 0,12%, em 2026, influenciado principalmente pelos automóveis. No varejo restrito, é esperado um crescimento projetado de 1,1% em 2025, uma desaceleração significativa em relação aos 4,43% do ano anterior.
Sobre o PIB, é esperado o crescimento de 2,3% para 2025 e 2026, e o consumo das famílias é projetado um crescimento de 2,5% neste ano e 2,9% para 2026.
Por ACSP - 07/10/2025