Cenários Econômicos Pós-Eleitorais
No momento, o País aguarda o desenlace de uma das eleições presidenciais mais
incertas e fragmentadas da história recente. Em consequência da incerteza, do elevado
desemprego, do crédito ainda caro, do fraco crescimento da renda e da baixa confiança de consumidores e empresários assistimos à lenta recuperação da atividade econômica.
Terminado o pleito, contudo, independentemente de quem sair vitorioso, essa
grande incerteza se dissipará, devolvendo o horizonte de planejamento para famílias e
empresas. Se o resultado for considerado satisfatório pelo mercado, deveremos presenciar redução na taxa de câmbio, aliviando as pressões de custos sobre os preços finais, permitindo ao Banco Central manter a taxa de juros básica (SELIC) num baixo patamar por mais tempo. Nesse caso, o Brasil, inclusive, poderá melhorar sua classificação de risco soberano.
Além disso, a confiança dos empresários deverá aumentar, o que, conjuntamente
com o menor custo de capital, aumentará os investimentos produtivos e a geração de
empregos. Dado o grau de ociosidade da economia, não será difícil alcançar um crescimento econômico mais robusto no ano que vem.
Por outro lado, se o novo Presidente da República for menos comprometido com a
realização de reformas estruturais, deveremos assistir a um cenário totalmente oposto,
com disparada da taxa de câmbio, ao piorar a percepção de risco-país, elevando os custos das matérias primas importadas, o que resultará em maior pressão inflacionária, obrigando a autoridade monetária a elevar a SELIC em prazo mais curto. Adicionando-se a esses efeitos o maior pessimismo em relação ao futuro por parte dos empresários, o resultado será a continuidade do lento crescimento da atividade.
De todo modo, seja qual for o cenário pós-eleitoral, a capacidade de expansão da
economia num prazo mais longo, com vistas a tornar o Brasil um país desenvolvido passará necessariamente pela realização de um amplo conjunto de reformas estruturais: previdenciária, tributária, orçamentária, educacional e política, entre as principais, o que requer períodos mais longos do que os ciclos eleitorais para sua maturação e, principalmente, da existência de uma coalizão política mínima necessária para a sua aprovação.
Análise da Conjuntura
1. Moeda, Crédito e Inflação
- Na última reunião do COPOM, o Banco Central decidiu manter a taxa básica
(SELIC) em 6,5% ao ano, pontuando que a recuperação lenta da atividade
econômica justificaria essa decisão.
- Inflação, medida pelo IPCA, foi negativa entre julho e agosto, corroborando
a visão da autoridade monetária.
- Crédito à pessoa física cresceu moderadamente em agosto, ao se corrigir os
valores pela taxa de inflação.
- Apesar da taxa básica continuar em seu nível mínimo histórico, o custo
médio do crédito concedido à pessoa física diminui lentamente, enquanto a
inadimplência segue estável.
2. Atividade Econômica e Emprego
- Atividade industrial cresceu acima do esperado em julho, na comparação
com o mesmo mês de 2017, porém ainda sem recuperar o ritmo anterior à
greve dos caminhoneiros.
- Confiança do consumidor continuou aumentando em agosto, em relação ao
mesmo mês de 2017, mantendo-se, contudo, no campo pessimista,
refletindo a maior cautela das famílias, principalmente no caso das compras
parceladas.
- Taxa de desemprego diminuiu em julho, na comparação com o mesmo mês
do ano passado. A massa de rendimentos, que representa a renda total
auferida no mercado de trabalho, apresentou desaceleração.
- Durante o mesmo período, as vendas do varejo apresentaram queda, em
decorrência da baixa confiança do consumidor, dos juros elevados, da
incerteza eleitoral e da base de comparação mais alta do ano passado,
impulsionada pela liberação do FGTS.
- Setor serviços seguiu a mesma tendência, explicada pelo elevado
desemprego, recuperação lenta da renda e demanda por contratação de
fretes acima do normal em junho, devido à incerteza da duração da
paralização dos caminhoneiros.
- Indicador de atividade do Banco Central (IBC-BR) apresentou alta em julho,
em base anual, porém ainda indicando lenta recuperação da atividade
econômica.
3. Finanças Públicas
- Governo Consolidado (União, Estados, Municípios e empresas estatais)
apresentou menor déficit fiscal primário (excesso de despesas não
financeiras sobre receitas) durante os primeiros sete meses do ano, em
relação a igual período do ano passado.
- Melhora do resultado primário explicada pelo menor crescimento das
despesas em relação às receitas do Governo Central (Tesouro, Banco Central
e INSS), impulsionadas principalmente pelos impactos positivos dos
programas de regularização tributária e da elevação do PIS e COFINS sobre
combustíveis.
- Resultados também mostram esforços de reduzir gastos para viabilizar o
cumprimento dos limites impostos pelo “teto” de crescimento das despesas
não financeiras do Governo Federal.
- Despesas com juros da dívida pública diminuíram em julho, no acumulado
do ano e nos últimos 12 meses, reduzindo o déficit nominal, que inclui o
primário e essas despesas durante o mesmo período.
- Meta fiscal anual de déficit primário para o Governo Consolidado deverá ser
cumprida com relativa “folga”.
- Apesar da melhora nos resultados, excesso de despesas sobre receitas
continua a ser financiado com emissão de dívida pública, que cresce em
trajetória insustentável a médio prazo.
- Escassa margem para o próximo Governo acomodar as pressões advindas do
crescimento de despesas obrigatórias, tais como as previdenciárias e de
pessoal.
4. Setor Externo
- Balança comercial (diferença entre exportações e importações de bens)
continuou apresentando saldo positivo (superávit) em agosto, porém
bastante inferior ao observado em 2017.
- Resultado mensal se explica pelo menor crescimento das exportações em
relação às importações, estimuladas pela recuperação, mesmo que lenta, da
atividade econômica.
- Nos primeiros oito meses do ano a balança comercial seguiu apresentando
robusto saldo positivo, com China, Estados Unidos e Argentina sendo os
maiores compradores dos produtos brasileiros.
- Somando-se à balança comercial os valores das transações de serviços e
rendas do País com o resto do mundo, chega-se ao saldo das transações
correntes, que em julho foi mais negativo do que no mesmo período de 2017,
devido à redução do resultado comercial.
- Em termos anuais, o saldo negativo das transações correntes tem sido
financiado com folga pela entrada de capitais financeiros internacionais, sob
a forma de investimentos diretos.
- A cotação do dólar, sofrendo grande volatilidade, disparou em agosto,
devido tanto à crise cambial que afeta alguns países emergentes, como
também às incertezas no campo eleitoral brasileiro.
5. Síntese da Conjuntura Econômica
- Atividade econômica continua se recuperando de forma extremamente
lenta.
- Inflação oficial (IPCA), em termos anualizados (12 meses) continua abaixo da
meta anual (4,5%).
- Perspectiva de manutenção desse cenário, até as eleições definirem o rumo
futuro da economia.
- Aumento da arrecadação e contenção do crescimento das despesas têm
melhorado o resultado fiscal, porém sem impedir que o grau de
endividamento público continue crescendo para níveis insustentáveis a
médio prazo.
- A recuperação da economia continuará aumentando as necessidades de
financiamento externo. Todavia, o saldo comercial robusto, a entrada de
capitais estrangeiros e o elevado estoque de reservas internacionais afasta a
possibilidade de o País vir a sofrer crises cambiais similares àquelas
enfrentadas por outros países emergentes.
Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal