Boletim de Conjuntura Agosto/2019: Perspectivas de Melhoras à Frente

Perspectivas de Melhoras à Frente

 

A evolução da atividade econômica no segundo trimestre de 2019, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), ainda não foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém a expectativa do mercado é de estagnação em relação aos primeiros três meses do ano, ou ainda de queda, o que, ao ser consecutiva, configuraria a chamada “recessão técnica”.

O desempenho da produção industrial, das vendas do varejo e do volume de serviços até junho, segundo o IBGE, confirma a fraqueza da atividade econômica. Do mesmo modo, outros indicadores que sinalizam a situação atual da economia (indicadores coincidentes), tais como o IBC-BR do Banco Central e o Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também permitem realizar a mesma leitura.

O alto desemprego, o baixo crescimento dos salários, as taxas de juros ainda elevadas, aliadas à incerteza provocada pela aprovação da reforma da Previdência e à piora do cenário econômico mundial são fatores que explicam a decepção com o crescimento econômico, que de acordo com os analistas consultados pelo Relatório FOCUS do Banco Central, deverá fechar 2019 com resultado abaixo do desempenho “anêmico” do ano passado.

Contudo, existem motivos para esperar, como fazem os mesmos analistas econômicos, melhores resultados, a partir do segundo semestre. Em primeiro lugar, a aprovação da reforma previdenciária, que já é praticamente certa, e a aprovação da MP da Liberdade Econômica, que reduzirá de forma importante a burocracia que enfrentam as empresas, deverão provocar aumentos na confiança dos empresários, o que poderá significar elevação da produção e contratação.

Em segundo lugar, a liberação de saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-PASEP e a antecipação de metade do pagamento do décimo terceiro salário para aposentados e pensionistas do INSS deverão injetar importante massa de recursos na economia. Esses recursos, mesmo que sejam usados em grande parte na redução do elevado endividamento que atinge as famílias, possibilitarão expansão adicional de seu consumo que, no atual momento, se configura como principal “motor” do crescimento da atividade econômica pelo lado do gasto.

As despesas familiares também serão beneficiadas ao longo dos próximos meses pela redução da taxa de juros básica (SELIC), que deverá prosseguir nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM), no contexto de uma taxa de inflação abaixo da meta perseguida pela autoridade monetária.

O poder aquisitivo adicional gerado com essas medidas, aliado ao aumento das contrações, que seria gerado pela maior confiança dos empresários, e à redução do custo do crédito deverão contribuir para expandir a demanda por serviços, o principal setor produtivo do País. Assim, a elevação do volume de serviços prestados, somada à possibilidade de novo recorde de safra agrícola poderão implicar em melhor desempenho da economia pelo lado da produção.

Em síntese, no atual momento, a evolução da econômica segue fraca, porém pode-se esperar maior crescimento nos últimos dois trimestres do ano, o que poderá assegurar, junto com a continuidade da aprovação de outras reformas estruturais importantes, maior expansão do PIB em 2020.

 

 

Análise da Conjuntura

 

1. Juros, Crédito e Inflação

 

  • Inflação, medida pelo IPCA, em julho, ficou abaixo do esperado em termos mensais, reduzindo sua variação anual para patamar bem abaixo da meta perseguida pelo Banco Central.

 

  • Em junho, crédito à pessoa física continua aumentando de forma lenta, ao corrigir-se os valores pela taxa de inflação (IPCA).

 

  • Taxa de juros média do crédito concedido à pessoa física ficou acima do registrado em junho do ano passado, enquanto a inadimplência diminuiu.

 

 

2. Atividade Econômica e Emprego

 

  • Em junho, a atividade industrial caiu, em relação ao mesmo mês de 2018, afetada tanto pelo fato de contar com dois dias úteis a menos como pela redução da produção extrativa mineral. Também houve queda em termos anuais.

 

  • Confiança do consumidor reduziu levemente em julho, em relação ao mês anterior, sinalizando que o consumidor segue cauteloso.

 

  • Em junho, desemprego diminuiu levemente em relação a igual mês do ano passado, mantendo-se em patamar elevado. A massa de rendimentos, que corresponde à renda total recebida no mercado de trabalho, continuou aumentando pouco acima da inflação.

 

  • Vendas do varejo mostraram queda suave em julho, também influenciadas pelo “efeito calendário” anterior, mostrando perda de ritmo de crescimento em termos anuais.

 

  • Em igual mês, o mesmo “efeito calendário” também afetou negativamente o volume de serviços prestados, desacelerando em termos anuais.

 

  • Refletindo as evoluções do varejo, dos serviços e da indústria, Indicador de atividade do Banco Central (IBC-BR) apresentou queda no segundo trimestre, desacelerando em termos anuais.

 

3. Finanças Públicas

 

  • Governo Consolidado (União, Estados, Municípios e empresas estatais) registrou déficit fiscal primário (excesso de despesas não financeiras sobre receitas), no primeiro semestre, bem abaixo do observado em igual período de 2018, configurando o melhor resultado desde 2015.

 

  • Principal causa desse resultado foi a redução de gastos tanto do governo federal quanto dos governos estaduais. A sazonalidade também ajuda, já que as receitas tendem a se concentrar no primeiro semestre e as despesas no segundo.

 

  • Despesas financeiras foram as menores desde 2012, devido aos “ganhos” do Banco Central com as operações de swap cambial, gerados pela valorização do Real.

 

  • Como consequência do menor “rombo” primário e da diminuição das despesas financeiras, resultado nominal (total), em junho, foi o menor desde 2012.

 

  • Melhora dos resultados fiscais permitiu manter o grau de endividamento público no mesmo patamar do mês anterior.

 

4. Setor Externo

 

  • Em junho, superávit da balança comercial (excesso de exportações sobre importações de mercadorias) apresentou leve queda em termos anuais, afetada pela redução das exportações, decorrente da desaceleração global e da crise argentina.

 

  • Houve déficit na conta corrente (excesso de importações sobre importações de bens e serviços) no mesmo mês. Deterioração em relação ao resultado positivo do ano passado se explica principalmente pelo menor saldo comercial e pelas maiores remessas de lucros e dividendos.

 

  • Entrada de capitais financeiros de longo prazo (Investimento Direto no País – IDP), durante o mesmo período, foi menor do que o esperado, porém, em termos anuais, mais do que suficiente para cobrir o excesso de importações de bens e serviços.

 

5. Síntese da Conjuntura Econômica

 

  • Desempenho dos principais indicadores de atividade econômica continua sinalizando fraco crescimento durante o primeiro semestre.

 

  • Espera-se melhores resultados no segundo semestre, devido aos efeitos positivos da aprovação da reforma da Previdência e da MP da Liberdade Econômica sobre a confiança dos empresários, somados à redução dos juros e à renda adicional decorrente da liberação de recursos do FGTS/PIS-PASEP e da antecipação da metade do 13º salário dos aposentados.

 

  • Inflação (IPCA) deve continuar abaixo da meta perseguida pelo Banco Central, o que abre espaço para a continuidade da redução da taxa básica de juros (SELIC).

 

  • Resultados fiscais apresentaram melhora durante o primeiro semestre, aumentando a probabilidade de cumprimento da meta fiscal anual, e contribuindo para manter estável o grau de endividamento do Governo, que, contudo, permanece elevado para garantir a solvência futura das contas públicas.

 

  • Contas externas seguem equilibradas, com entrada de capitais financeiros de longo prazo mais do que suficientes para cobrir as necessidades de financiamento externo do País, tendência que deve manter-se ao longo do resto do ano.

Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal