
Na tarde de terça-feira (11), o Comitê de Civismo e Cidadania, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizou sua última reunião do ano comemorando, antecipadamente, o "Dia dos Bandeirantes". Para a celebração, na Plenária da Casa, foram convidados a palestrar o coronel Luiz Eduardo Pesce Arruda, doutor e pós-doutorando em História da Cultura, e o embaixador Luis Fernando Ávalos, na presença dos coordenadores do COCCID, Samir Nahkle Khoury e Adolfo Savelli.
Com a temática “Entre Memórias e Mitos: a Saga dos Bandeirantes”, os palestrantes abordaram o bandeirante no imaginário paulista, uma figura histórica do Brasil colonial.
Ávalos iniciou sua palestra enaltecendo a saga dos bandeirantes, dizendo ser este um “tema tão apaixonante e essencial para São Paulo”, e fez uma breve contextualização de sua trajetória profissional como diplomata, com carreira destacada no Ministério das Relações Exteriores do Paraguai. Ele abordou, em detalhes, como foi sua experiência como embaixador na França e na Coreia do Sul, e pontuou: “Nossa tarefa enquanto diplomatas é respeitar culturas”. Dito isso, o embaixador fez diversos questionamentos sobre os bandeirantes, como a origem da palavra, cujas respostas foram contempladas na palestra seguinte do coronel Arruda.
De acordo com Arruda, “Bandeirantes são os que participavam das Bandeiras”, organizações militares de 110 homens, o que chamamos hoje de “companhia” ou “esquadrão”. Um termo da São Paulo contemporânea, que só passou a ser utilizado em 1740.
O coronel deu uma verdadeira aula de História abordando as expedições dos principais bandeirantes: Antônio Raposo Tavares – que teve expedição de sete anos como a mais destacada do período –; Fernão Dias Paes Leme; Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera; Manuel Borba Gato; e João Ramalho.
Ele fez ainda um panorama das origens da Vila de São Paulo, passando pela figura e importância do Padre José de Anchieta e dos jesuítas; disputas geopolíticas da época entre Portugal e Espanha; Brasil do século XVI; cultura e sabedoria indígenas; a diferença da escravização africana e indígena; liderança paulista no cenário nacional, cuja “colonização do País está associada diretamente às expedições dos bandeirantes”; entre outros fragmentos históricos que permearam a palestra.
Arruda também apontou como os bandeirantes estão presentes em nosso dia a dia na cidade e no estado de São Paulo e mostrou como o estado busca compreender e racionalizar seu próprio papel no processo histórico. “A gente nunca espera um favor, a gente vai e faz”, declarou para explicar as principais características que formam SP, com “decisões colegiadas, empreendedorismo e orgulho”.
O doutor em História explicou, na oportunidade, que o Dia dos Bandeirantes é comemorado sempre no dia 14 de novembro, data escolhida em homenagem à fundação da cidade de Santana de Parnaíba, considerada o berço das Bandeiras.
E não fugiu do questionamento do público sobre a polêmica: “bandeirantes, heróis ou vilões?”, no que ele respondeu como historiador: “nem um nem outro, [foi] uma figura típica do seu tempo”, explicando que devemos fugir do “anacronismo”, que é “o pior vício da História”. Ou seja, “interpretar o passado com os olhos do presente”. Segundo ele, o historiador precisa responder a essas questões de forma acadêmica e tentando compreender o período histórico, sem realizar juízo de valores. “Cada geração tem suas ferramentas para analisar de acordo com sua ótica. A História é um recorte”, complementou.
Entre polêmicas, houve a referência à estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, que foi vandalizada há quatro anos. Arruda coloca o episódio dentro do anacronismo, e criticou o vandalismo: “Não podemos utilizar de violência para impor opiniões. É um tipo de prática não saudável e não democrática. Vamos construir uma cidade de múltiplas culturas”. De acordo com um dos membros do COCCID, a estátua permanece envolta por tapumes, mas já há projetos de restauração em andamento.
Antes da palestra de Arruda, logo após a execução do Hino Nacional, no início da reunião, Savelli compartilhou que, no último dia 04 de novembro, houve homenagem ao poeta, filósofo e compositor sertanejo Reinaldo Bressani, na Câmara Municipal de São Paulo. “Local em que várias vezes ele representou o COCCID”, reforçou. Bressani era membro do comitê e faleceu em agosto deste ano. Segundo Frances de Azevedo, membro do COCCID, em breve será lançado pelo comitê um livro de poemas póstumos de autoria do colega. Para mais homenagens, D’Amico, outro membro do COCCID, declamou o poema “Espaço de Cidadania”, de autoria do amigo Bressani.
Outros temas também foram abordados nesta reunião, como a notícia de que a Praça das Artes, no Anhangabaú, levará o nome do poeta Paulo Bonfim. Uma iniciativa do COCCID, segundo Samir.
E, por fim, a membro do COCCID, Edimara de Lima, fez um apelo aos demais membros para que acionem contatos políticos em defesa da causa pelas escolas especiais. O decreto federal 12.686/2025 ameaça escolas especiais e APAEs ao focar na matrícula em classe comum, desconsiderando a complexidade de alguns casos e o papel fundamental dessas instituições. Segundo Edimara, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), já garantiu que as APAEs não fecharão em seu estado e já há muita gente nessa luta e, por essa razão, recorreu ao COCCID para que se unam também por essa causa, fazendo coro para que o decreto não se concretize.
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Por ACSP - 12/11/2025