Com a pandemia, mais empresas pensam em sucessão. Como fazer esse planejamento?

O perfil das empresas brasileiras é interessante: por aqui, cerca de 80% dos negócios são familiares. Com a chegada da pandemia do coronavírus ao país, que já completa mais de um ano, o número de mortes pela doença começou a crescer sem parar e já ultrapassou a marca de meio milhão. Mas o que essas duas situações têm a ver?

As mortes provocadas pela Covid-19 trouxeram à tona um assunto não muito discutido em empresas familiares: a sucessão do negócio. Em entrevista ao Diário do Comércio, Eduardo Benini, advogado especialista em planejamento sucessório, disse que, no último ano, o número de clientes cresceu mais de 50%. “Essa correria de agora é resultado direto do aumento do risco de morrer trazido pela pandemia do novo coronavírus”, declarou.

Embora seja um assunto desconfortável, a sucessão da empresa precisa ser discutida o quanto antes. Assim, com as possibilidades mapeadas, fica mais fácil garantir que, mesmo na ausência de um dos familiares, o negócio continuará andando e, de preferência, com sucesso. Além disso, o planejamento prévio pode, inclusive, evitar desentendimentos entre os parentes.

Após o falecimento do empresário, a transmissão patrimonial é vista como herança, o que pode gerar grandes conflitos principalmente em negócios familiares. Mas o que muitos não sabem é que essa sucessão também pode ocorrer durante a vida dos fundadores — uma alternativa interessante para evitar discordâncias.

Como os empresários enxergam os herdeiros?

De acordo com um levantamento da KPMG, em 2017, 16% dos empresários consideravam a nova geração preparada. Em 2018, essa parcela caiu para 13%.

E, ao que parece, apesar das preocupações, muitos negócios ainda não começaram a discutir sobre o tema: a pesquisa mais recente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) mostrou que 72% das empresas não têm um plano de sucessão para cargos-chave.

“Com a crise, os empresários viram que as suas organizações estão menos preparadas do que eles imaginavam para a sucessão”, afirmou Sandro Benelli, consultor de varejo com experiência em sete empresas familiares, em entrevista ao DC.

Outro grupo que também vem sentindo a necessidade de planejar a sucessão dos negócios familiares é o de produtores rurais, já que, tradicionalmente, seus filhos costumam seguir profissões bem diferentes dos rumos que o negócio precisa.

Como começar esse planejamento?

Um planejamento sucessório normalmente é conturbado e, por isso, é um assunto pouco abordado.

Antes de mais nada, é importante saber que não existe uma receita pronta para passar por essa etapa. Isso porque cada empresa tem suas particularidades.

Os especialistas recomendam que as famílias comecem fazendo um levantamento detalhado do patrimônio, classificando todos os bens: separe as propriedades operacionais, como armazéns, das que são destinadas a lazer, como automóveis, sítios, fazendas e outros imóveis sem finalidades comerciais.

5 dicas para conduzir uma sucessão do jeito certo

Os especialistas entrevistados pelo Diário do Comércio listaram algumas orientações para os empresários que pretendem dar mais atenção ao planejamento da sucessão de suas organizações. Confira, a seguir, os principais pontos trazidos por eles — mas lembre-se que essas dicas são apenas um ponto de partida para você se aprofundar no assunto:

  • Não associe sucessão empresarial a morte, mas, sim, a planejamento: embora esse seja um tema delicado, enxergar a situação de forma mais racional durante a etapa de planejamento facilitará a tomada de melhores decisões para o sucesso duradouro da empresa.

  • Abra a discussão para o processo de sucessão: decisões tomadas em conjunto têm maiores chances de dar certo no futuro, já que ninguém será pego de surpresa. Busque entendimento de planos e posicionamentos entre membros da família e gestores da empresa.

  • Estude a sociedade: se tiver sócios, avalie a composição da sociedade, quem são as pessoas envolvidas e as regras para sucessão nas condições em que a sua empresa se encontra.

  • Procure ajuda: muitas empresas enfrentam dificuldades maiores porque insistem em manter as discussões relacionadas à sucessão entre os familiares e sócios, mesmo sem ter conhecimento suficiente para conduzir o processo da melhor forma. Se for necessário, recorra à ajuda de profissionais especializados para receber suporte e reduzir as chances de algo dar errado.

Por ACSP