
Nesta quinta-feira (26), ocorreu mais uma reunião do Comitê de Avaliação da Conjuntura do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Coordenada pelo economista e professor Edy Luiz Kogut, teve a participação de especialistas de vários setores da economia e contou também com análises do economista-chefe do IEGV, Marcel Solimeo. Mensalmente, o comitê faz uma avaliação da situação dos vários setores da economia brasileira e mundial, com exposições e debates sobre os rumos da economia como um todo.
Agricultura
Apesar de o setor continuar avançando, sem grandes mudanças, alguns indicadores apontam que recentes decisões tributárias podem influenciar a estrutura do setor. A obtenção de crédito fica mais difícil para 2025/2026 por conta das taxações nas letras de crédito agrícola, em que o investidor desse papel passa a pagar imposto de renda.
Esses títulos diminuem a presença orçamentária do governo, sendo diretamente negociados com o investidor, que, além de não ter sua aplicação tributada, evitava a intermediação do governo. É uma modalidade de investimento que funcionou bem, reduzindo a aplicação do dinheiro vindo do orçamento do governo. Pagar imposto sobre esse recurso investido pode causar problemas num momento em que crises determinam incertezas, e o agro depende muito do comércio exterior.
Por outro lado, problemas decorrentes dos conflitos no Oriente Médio ameaçam a logística internacional do comércio. Entre outros problemas, um eventual fechamento do Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, por parte do Irã, pode criar problemas para a exportação agrícola do Brasil. A agricultura está com endividamento alto em todos os setores por conta de investimentos e expansão da produção, o que coloca o setor em uma situação mais difícil. Por outro lado, o agro continua crescendo, com alta produtividade em todos os setores. Mas, para continuar crescendo, precisa de mais financiamentos.
É importante que o setor enfrente os problemas do Brasil, como falta de infraestrutura de armazenamento, produção local de fertilizantes agrícolas, setor ainda pouco atraente para investidores, e a questão da logística. O agro emprega 26% da mão de obra no País e, apesar dos eventuais problemas, está dando certo e tem a perspectiva de crescimento do mercado externo. Apesar do momento ainda instável, existe otimismo, por parte dos produtores, na procura por expansão de terras cultiváveis e do crescimento da agricultura brasileira.
Comércio
O Brasil é um dos mercados mais dinâmicos do setor do comércio eletrônico em relação ao mercado internacional, com 73% dos internautas comprando pela Internet, consolidando o País como um mercado muito importante para o chamado e-commerce. Mas não só no Brasil. Para se ter uma ideia, 41% da população mundial já realizou compras online, e mostra um ritmo de expansão acelerado que, até o final dessa década, pode chegar a 200 milhões de compradores na internet. Um crescimento exponencial.
De qualquer forma, se considerarmos uma data promocional, como o Dia dos Namorados, o aumento nas vendas, em 2025, foi da ordem de 15,8%, em torno de R$ 8,02 bilhões, em relação ao ano passado. O Dia dos Namorados é a segunda data mais importante no calendário promocional brasileiro, com um crescimento que fica atrás só da Black Friday.
Vendas no e-commerce por setor (em reais no Brasil em 2024):
Moda e acessórios – 1,1 bilhão
Eletrodomésticos – 930 milhões
Saúde – 909 milhões
Telefonia – 645 milhões
Pet shop – 245 milhões
Obs.: Mulheres são maioria nas compras virtuais: 73%.
Indústria Eletrônica
Crescimento de 0,9% da eletrônica, menor em comparação com a indústria. As vendas de aparelhos de informática estão estáveis, com aumento de receita por conta da preferência do consumidor por produtos mais caros. Incremento de nove mil postos de trabalho e acréscimo de 9% da balança comercial, com 7% das exportações, e aumento da capacidade instalada de 77% para 78%, em maio. Mais empresas demonstram otimismo em relação aos seus negócios, embora estejam com baixo nível de confiança em relação aos rumos da economia. Existe uma perspectiva de crescimento com muita cautela.
Indústria Têxtil
No setor têxtil existe incerteza, embora no início do inverno exista, tradicionalmente, um otimismo em relação às vendas, o que pode mitigar a queda de vendas do setor daqui para frente. De qualquer forma, o crédito está escasso para o setor, e o empresário deve ficar muito atento e cuidadoso. Junho caiu em relação a maio, e as importações cresceram, afetando o mercado têxtil por conta da falta de controle, que atrapalha muito a produção formal e explica a queda de fornecimento da matéria-prima para as fábricas.
Setor Financeiro
O mercado bancário vem apresentando um grande crescimento, a despeito da taxa de juros, o que pode ser atribuído às novas tecnologias e à expansão dos serviços digitais. Também deve ser levado em consideração o aumento do mercado das cooperativas de crédito, que hoje representam 10% dos créditos concedidos, além das fintechs e dos bancos digitais, que desenvolvem produtos inovadores.
Mas o mercado está acompanhando de perto o aumento dos juros, que impacta de forma geral. Além disso, os bancos trabalham com o aumento de inadimplentes. Hoje são 71 milhões de brasileiros, um aumento importante, com um valor médio de dívidas de R$ 4.400,00 — 15% de aumento em comparação com maio do ano passado —, o que torna os bancos mais seletivos na concessão de crédito.
De qualquer forma, os resultados operacionais têm sido positivos, com diminuição do quadro de funcionários, revisão das estruturas dos bancos e venda de serviços, especialmente produtos de seguros. Há, portanto, uma política de redução de caixas presenciais, utilizando os caixas eletrônicos. No entanto, os juros altos sinalizam uma falta de adequação da política fiscal e um descontrole inflacionário contido pela política monetária de manutenção de taxa de juros altas.
Cenários futuros
O cenário externo instável ainda deve ter consequências, de acordo com os rumos da geopolítica mundial após os conflitos no Oriente Médio. No Brasil, o crédito continua crescendo, principalmente se considerarmos a transferência de renda do governo por meio dos consignados, que ainda sustentam o consumo.
No entanto, a perspectiva é de desaceleração da economia, especialmente se considerarmos alguns setores como varejo restrito (vendas de atacarejos, materiais de construção), que dependem mais do nível de renda e mostram uma tendência clara de desaceleração, se o cenário continuar esse.
Existe também uma redução da margem da confiança do consumidor por fatores como imprevisibilidade fiscal, alta dos juros básicos e eventual desaceleração do PIB, o que vai de encontro a um aumento da desconfiança do empresariado. Deve ser um crescimento perto da casa dos 2,3%, o que pode significar o não crescimento do PIB per capita e uma certa estagnação, além de uma perspectiva de crescimento da dívida pública de algo em torno de 100% do PIB até 2030.
Por ACSP - 26/06/2025