
Na quinta-feira (25), o Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizou sua oitava reunião no formato online. Coordenado pelo economista e professor Edy Luis Kogut, participam também do evento o economista-chefe do Instituto de Economia da ACSP, Marcel Solimeo, e o grupo de especialistas setoriais que fazem uma avaliação mensal da conjuntura econômica brasileira e internacional.
Agro
No mês de setembro a safra de grãos começa a ser cultivada, mas a expectativa é de uma redução de margem para os produtores. Quem planta soja, milho e algodão deve ter lucros menores, o que, em princípio, é um fato inédito consequência da desvalorização do dólar e a queda de preços das commodities no mercado internacional. Além disso, existe uma oferta maior provocada pela safra recorde dos Estados Unidos. Também é importante que se leve em consideração a crise financeira com menos créditos, mais recuperações judiciais e as cooperativas de crédito com dificuldades em atender a demanda.
A próxima safra deve ter uma receita maior e uma despesa idem. O choque de tarifas do presidente Trump não ajudou a baixar os preços e a situação para o consumidor não melhorou, embora o governo tenha obtido algum ganho. Em relação às chuvas, elas devem chegar mais para o final do ano e o que se espera é que todos esses fatores contribuam para um ano mais difícil. O setor deve ter uma queda.
Já com a produção de máquinas e equipamentos agrícolas a situação não é diferente. As fábricas já estão sofrendo redução nas vendas e deve impactar no PIB brasileiro. A esperança é que após a colheita os problemas do mercado internacional sejam menores. De qualquer forma, o Brasil precisa dinamizar suas decisões em relação à tributação e o próprio mecanismo do comércio internacional. Existe a grande perspectiva do tratado MERCOSUL com a União Europeia, que, com certeza, deve trazer benefícios para a América do Sul, embora só comesse a funcionar daqui a um ano. Enquanto isso, as bolsas, os mercados de capitais, já começam a sinalizar uma situação mais difícil para o setor.
Indústria
O setor industrial continua num processo de desaceleração com queda de 0,2% em julho de 2025 sobre julho de 2024, enquanto no acumulado nos últimos 12 meses houve uma queda de 1,1, uma queda importante quando levamos em consideração que em 2024 o setor cresceu 3%. Trata-se de um processo nítido de desaceleração da indústria como um todo. De qualquer forma, é muito claro a diferença do crescimento da indústria extrativa. Só para se ter uma ideia, nos últimos 25 anos a indústria extrativa cresceu 128% enquanto a de transformação 19%.
Também é importante destacar outros fatores que contribuem para a baixa performance da indústria do Brasil. Entre eles, os impactos dos juros altos da política monetária. Forte queda na produção de bens de capital e de consumos duráveis, problema que vem atingindo o mercado de automóveis com queda de 4,8% em agosto de 2025, em relação ao mesmo mês de 2024. Se considerarmos só o mercado interno de automóveis, sem a exportação, a queda foi ainda maior, de 14%.
Enquanto isso, os índices de confiança da indústria estão caindo. As perspectivas de crescimento do PIB não vão além de 2%. Estamos entrando numa nova realidade de potencial de crescimento bem menor em relação ao que vinha sendo observado.
Comércio eletrônico
Setembro não tem uma data comemorativa forte e desde 2003 vem sendo promovida a semana do cliente como semana promocional que, este ano, faturou 131 milhões de reais, apresentando um crescimento de 22% em relação ao ano passado. Roupas, produtos alimentícios e perfumaria foram os itens mais vendidos tendo como principais meios de pagamento o pix e cartão de crédito.
Para o Dia das Crianças espera-se um faturamento de 9,3 bilhões, segundo dados da FGV. Em relação ao Black Friday as perspectivas são excelentes com 52% dos consumidores brasileiros pretendendo comprar no período promocional. Black Friday tem 15 anos e é uma data importante para quem procura preços menores. De qualquer forma, existe a questão do roubo dos consumidores do Natal ou da antecipação das compras de Natal, enfraquecendo a principal data promocional do País. O varejo de um modo geral teve um crescimento, tanto no eletrônico como no presencial com pequena diferença positiva para o crescimento nas vendas online.
Mercado financeiro
O mercado financeiro está passando por grandes mudanças. Os bancos estão preocupados apenas com os grandes clientes, mirando as empresas do setor de serviços o principal filão corporativo. O atendimento pessoal está sendo extinto, com a redução das estruturas dos grandes bancos e o advento das finthecs.
Já para a pessoa física, a inadimplência tem como consequência a redução da oferta de crédito pelos bancos. O setor bancário é um ser em extinção. Hoje é tudo resolvido pelos meios digitais e o estímulo é para que isso continue sendo implantado. O crédito cresce para as pessoas jurídicas.
Por outro lado, a fraude digital vem crescendo deixando os dados dos clientes expostos. Isso pode colocar em risco toda a implantação e desenvolvimento da tecnologia. Os bancos não estão conseguindo combater golpes cada vez mais sofisticados. Invasões e roubos de bancos de dados estão ameaçando o sistema, já que o controle tem sido difícil. Por outro lado, estão sendo desenvolvidos aplicativos que ajudam a detectar os golpes e fraudes.
Hoje as fraudes estão submetendo o sistema financeiro a uma grande insegurança. O orçamento para o desenvolvimento de tecnologia tem sido muito grande, porém não tem sido suficiente. Os bancos já estão, inclusive, trabalhando com confirmações de acesso pelos clientes e paradoxalmente reduzindo em grande escala o número de funcionários, substituídos pelos aplicativos.
Cenários
Os investimentos estão desabando e a perspectiva de crescimento do PIB é muito baixa. A pouca oferta de mão de obra deve continuar, por conta do assistencialismo, principalmente, mas também pela baixa qualificação em geral. Os juros permanecem altos e o dólar deve continuar caindo, por conta da queda da moeda nos Estados Unidos, que está diante de um problemático déficit fiscal. Em relação ao PIB as perspectivas para o final do ano não são boas. Este ano deve ficar por volta de 2%, consequência de problemas do aumento de impostos e da dívida fiscal.
Por ACSP - 26/09/2025