
O Comitê de Avaliação da Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) realizou sua décima reunião mensal na última quinta-feira, 31 de outubro.
A reunião virtual, coordenada pelo professor Edy Kogut, fez uma avaliação da conjuntura dos vários segmentos da economia e contou também com a participação do economista-chefe do Instituto de Economia Gastão Vidigal, Marcel Solimeo.
O encontro fez uma avaliação inicial da economia e apresentou os resultados primários das contas públicas nos últimos 12 meses, encerrados em agosto de 2024, que mostrou um déficit de -2,3% do PIB, estável em relação à leitura anterior. Já o déficit nominal apresentou um déficit de -9,8%, uma queda em relação ao número anterior de -10,0%. A dívida bruta do governo registrou 78,5% do PIB.
Agro
Apesar da seca dos últimos meses, a mais intensa desde 1964, o agro apresenta a possibilidade do crescimento em torno de 2% da área cultivada, devido ao retorno das chuvas. O setor bateu recorde de geração de emprego e está com uma forte demanda pela mão de obra especializada, especialmente técnicos que possam operar as máquinas e equipamentos tecnológicos que vem mudando o trabalho no campo. A previsão é que este ano o setor não ajude a conter a inflação e contribuir para o crescimento do PIB de maneira efetiva. Em relação à pecuária, após grandes abates o preços da carne bovina no Brasil e no mundo os preços estão subindo em torno de 10% em dólar. Nos Estados Unidos a arroba do boi está em US$ 100 e no Brasil US$ 50 o que deve impactar na inflação e nos preços das carnes de porco e de frango.
Varejo e e-commerce na Black Friday
Segundo pesquisa de vendas, a Black Friday 2024 deve ter uma alta de 10,2%, com R$7,93 bi, em relação à 2.023, uma elevação nominal de +7,2%. O “ticket médio” deve ficar em R$ 7,38 ante R$ 7,05 no ano passado. 65% dos consumidores devem comprar no próprio dia da Black Friday (29 de novembro) e 89% pesquisam os preços antes de 30 dias.
Construção Civil
A construção civil apresentou novos dados sobre o setor. Nos últimos 12 meses, foram lançados 95 mil imóveis com 38% de médio ou alto padrão e 62% no programa Minha Casa Minha Vida (até R$ 350 mil). As vendas aumentaram 27%, com 13% no médio e alto padrão e 42% no MCMV. Os estoques caíram 3,1%, porque se vende mais do que se produz. Apenas 2% dos imóveis estão prontos e 98% em construção.
Existem, no entanto, três pontos que merecem atenção: o “funding” o financiamento com recursos da caderneta e do FGTS estão acabando e deverão ser substituídos por fontes mais caras que seguem a taxa Selic.
Margens de lucro em São Paulo devem cair com a escassez de terrenos e a falta de mão de obra que encarece os custos. Como terceiro ponto, vale destacar que a reforma tributária deve dobrar a tributação do setor. Os imóveis populares devem sofrer as consequências dessas mudanças.
Indústria
Os dados da indústria têm levado mais otimismo para o setor. Os últimos 12 meses, até agosto, apresentaram alta 2,4% e o acumulado janeiro – agosto teve um crescimento de 3,0%. Já as exportações vem perdendo fôlego, enquanto o mercado interno cresce por conta das transferências de renda. Houve 11% de aumento dos rendimentos e 9,9% do crédito, mesmo considerando os juros elevados.
Os bens duráveis cresceram 8,6% e as importações cresceram 25%, pois o uso da capacidade instalada, de acordo com o IPEA, está no máximo. Em 10 anos, a produtividade cresceu apenas 0,28%. A previsão do Ministério da Indústria e Comércio para 2024 mostra as exportações caindo 1,2% e as importações subindo 12%. Existe, portanto, uma demanda que pressiona os preços e pode levar ao aumento dos juros.
Já as vendas de vestuário cresceram 15% em base anual, apesar de terem caído 7% no ano anterior. “A taxa das blusinhas” favoreceu um pouco, além da alta do dólar, mas, a falta da mão de obra também é um problema para o setor. A indústria eletroeletrônica (ABINEEE) cresceu 11% de janeiro a agosto, após ter caído 10% no ano anterior.
As exportações cresceram 2% sobre uma base forte em 2023. Destaca-se a exportação de transformadores para os EUA. As importações subiram 9% a utilização da capacidade instalada subiu de 73% para 79% em um ano. Na área de embalagens os dados são todos positivos, mas variam muito entre os diversos ramos. Há uma tendência para produzir embalagens metálicas porque o alumínio é 100% reciclável.
Mercado Financeiro
No setor financeiro há muita preocupação com os preços e com a consolidação fiscal. A escalada do conflito no Oriente Médio pode afetar os preços administrados. Os preços da carne estão subindo, o crédito está seletivo e cresce moderadamente. A inadimplência se estabilizou, mas o endividamento está alto, o investimento está baixo com os juros elevados e afetam a bolsa. A confiança está acima de 50 pontos nas empresas, porém, há pessimismo com o risco fiscal e a situação no exterior. O setor deve crescer 7% em 2024.
Cenário
No campo macro destacam-se: o crescimento do PIB em 3%, o desemprego é o menor desde 2012 e o déficit primário vai cair de 2,3% do PIB para 0,5%. Embora não seja sustentável por conta dos juros altos, se não houver mudanças, o déficit primário pode chegar a 1% negativo em 2025 e a inflação pode passar do limite superior da meta.
Aguarda-se um ajuste, embora a orientação do governo seja pela demanda. Em relação ao PIB, os gastos até 2023 eram de 17% para uma arrecadação de 19%. Hoje já são gastos 19% sobre ao mesmo percentual de arrecadação e em 2025 existe a possibilidade de déficit de 1% do PIB. Existem R$ 170 bi de receitas não recorrentes que entraram em 2024, o que demonstra um equilíbrio ainda muito frágil. Afinal é uma fase de transição.
Por ACSP - 05/11/2024