CONIN da ACSP realiza evento para debater a IA no Brasil

Na terça-feira (30), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por meio do seu Conselho de Inovação (CONIN), e com apoio do Pateo76, Hub de Inovação da entidade, realizou o “Seminário Futuro Inteligente – IA no Brasil”. No evento, especialistas, empresários e líderes debateram os impactos, desafios e oportunidades que a inteligência artificial já traz, e ainda trará, à sociedade, empresas e ao Brasil, compartilhando opiniões sobre como a IA está moldando o futuro dos negócios, das relações sociais e da economia global.

Abrindo o evento, o presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, ressaltou a velocidade acelerada das transformações tecnológicas impulsionadas pela inteligência artificial. “Mais do que nunca, vivemos um momento excepcional no qual a inteligência artificial está chegando com uma velocidade muito grande”, disse. “Meu pai falava que, na época dele, para haver uma mudança, precisaria passar uma geração. Estamos conversando aqui e, certamente, já estão ocorrendo outras evoluções tecnológicas".

Já Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), fez uma ponderação sobre o futuro da IA. “Hoje, é um momento de reflexão no sentido de para onde nós vamos com a inteligência artificial. Eu sempre falo o seguinte: a tecnologia veio para ganharmos eficiência e baixar custos dos serviços”, salientou. “As empresas estão fazendo largos investimentos para ver quem sai na frente da inteligência artificial, quando isso deveria ser um projeto comum, onde todos podiam estar trabalhando para tentar desenvolver a inteligência artificial para o bem da sociedade, da humanidade”.

Tito Hollanda Barroso, coordenador do CONIN, lembrou que “dois, três meses atrás, estava falando com o Alfredo e o Ordine sobre fazer um seminário aqui na Associação Comercial, trazer algumas pessoas para falar de inteligência artificial, sobre empreendedorismo e startups”. Ele ainda destacou para os presentes a relevância da ACSP. “Acredito que a Associação Comercial é uma entidade não só presente aqui em São Paulo, mas tem presença no Brasil inteiro. E, como disseram Ordine e Cotait, a Casa é de vocês, e estendo o convite para que cada vez mais possam estar aqui”.

O primeiro painel foi o "IA no Brasil e na Sociedade", que discutiu os impactos da IA na sociedade brasileira, com foco em legislação e ética, com mediação do coordenador do CONIN e participações de André Beck, CFO e COO da Wide Holding, grupo responsável pela WideLabs, e Camila Farani, investidora-anjo há 15 anos, e presidente da G2 Capital e Venture Partner da Staged Ventures.

Os palestrantes destacaram que a IA, como toda tecnologia, é uma ferramenta, e não o fim, servindo para potencializar as atividades, aumentar a produtividade, acelerar processos e conectar informações. Sobre o temor da inteligência artificial substituir a humanidade, Camila aponta que “também acredito que não vai substituir a inteligência humana, mas ela vai potencializar”.

Entre os principais desafios e entraves para o desenvolvimento e regulação da inteligência artificial no Brasil, foi apontada uma lacuna no letramento digital no Brasil. “Eu estava semana passada em Aracaju, no Sergipe, e, acreditem, só 30% levantaram a mão quando perguntei quem usa IA”, relatou Camila.

Para Beck, a inteligência artificial pode ter uma contribuição significativa para desburocratizar os serviços públicos, tornando-os mais eficientes e rápidos. “Você pega hoje uma pessoa de baixa renda, ela entra com o seu pedido de aposentadoria no INSS, pode demorar, mais ou menos, de dois a seis anos. O governo gasta, anualmente, de dois a três bilhões de reais só por causa dos atrasos”, revelou. “A IA reduz essa fila para 30 dias, e isso dependendo da capacidade computacional que for alocada para isso, se for maior, pode reduzir para oito minutos um pedido de aposentadoria de uma pessoa de classe baixa”.

Para eles, é fundamental criar uma regulamentação que não trave o desenvolvimento tecnológico do Brasil, evitando repetir a perda de outras corridas tecnológicas no passado. Também apontaram a importância de saber para onde os dados coletados pelas IAs estão indo e o que será feito com eles, especialmente em relação a informações sigilosas e privadas.

O painel seguinte debateu o tema “IA e Negócios”, que explorou como a inteligência artificial está transformando a forma como as empresas operam, se comunicam e criam valor. Os debatedores foram Ana Clara Rodrigues, Chief Technology Officer da Genial Investimentos, e Marcelo Tripoli, vice-presidente da McKinsey, fundador e CEO da Consultoria Zmes e comentarista de inovação da CNN Brasil, com mediação de Tito Hollanda Barroso.

Tripoli contou que as principais mudanças nas redes sociais estão sendo testadas na Inglaterra, por exigência do órgão regulador local. Foi exigido à Meta, responsável pelo Facebook e Instagram, oferecer uma versão das redes sociais sem anúncios, custando entre quatro e cinco libras. “Isso não é inédito porque o YouTube já oferece isso, tem o Spotify, mas quando a gente vê o percentual de pessoas que pagam, fica pouco mais de 5%”.

Ana Clara relatou que a inteligência artificial já está sendo utilizada no setor financeiro para melhorar a eficiência operacional, como, por exemplo, em áreas como jurídico e compliance, otimizando processos e gerando economia significativa e ganho de eficiência.

Tripoli também chamou atenção para a mudança de comportamento da sociedade que está deixando de pesquisar no Google para buscar respostas na inteligência artificial, que pode errar convincentemente, fazendo com que usuários inexperientes acreditem na informação falsa, exigindo maior pensamento crítico e checagem. “Na IA, quando ela erra, está alucinando, e a pessoa que não está acostumada a lidar com a tecnologia, não entenderá que ela alucinou”.

O último painel do evento foi “IA para Empreender: o Caminho das Startups”, que discutiu como startups estão aplicando a inteligência artificial para inovar e crescer, incluindo aquelas em que a IA é o próprio core business, além de explorar os principais desafios e oportunidades para escalar negócios em um cenário competitivo. Participaram Adriana Rollo, advogada especializada em tecnologia, propriedade intelectual e proteção de dados, Carlos Degas Filgueiras, cofundador e sócio da Bewater, fundo de venture capital focado em empresas de tecnologia em crescimento, e Marco Perlman, CEO da Aravita, startup brasileira que usa inteligência artificial para combater desperdício e ruptura no varejo de alimentos.

No debate, Adriana detalhou que os principais desafios jurídicos que as empresas de tecnologia enfrentam em relação à inteligência artificial no Brasil são o cuidado com o uso de direitos autorais e dados pessoais para evitar violações, risco de violação de direitos autorais e de privacidade de dados no que a IA gera, e saber de quem será o responsável por eventuais danos causados pela IA.

Perlman explicou que a Aravita utiliza a inteligência artificial para otimizar a gestão dos alimentos frescos nos supermercados. Com base nas análises geradas pela IA, a ferramenta possibilita que os supermercados comprem corretamente, prevendo a demanda e a durabilidade de alimentos frescos, permitindo uma gestão de estoque mais eficiente e lucrativa para os supermercados.

Filgueiras considera ser fundamental a existência de barreiras de entrada, como as regulatórias. Sobre os desafios do empreendedorismo no Brasil, ele apontou que a insegurança jurídica e a alta taxa de juros desestimulam o investimento em inovação. Ele também disse que o Brasil é despriorizado por fundos globais, e os sinais negativos enviados pelo País afastam o capital.

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Por ACSP - 01/10/2025