
Nesta segunda-feira (27), o Conselho Político e Social (COPS), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), abordou, na sede da entidade, a reunião entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, realizada no último domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, e seus possíveis desdobramentos. Para debater o tema, a reunião contou com as presenças de Marcos Troyjo, economista, cientista político e diplomata, e do embaixador Roberto Azevêdo.
Primeiro a falar, Troyjo iniciou a sua exposição recordando o histórico de imprevisibilidade de Donald Trump no relacionamento com outros chefes de Estado e aliados, entre eles, Elon Musk, e, mais recentemente, Mark Carney, chefe de governo do Canadá, e Xi Jinping, presidente da China, o que deve ser um ponto de atenção ao governo brasileiro.
O palestrante avaliou que a relação entre Brasil e Estados Unidos voltou a um ponto de tensão comercial por causa das tarifas impostas por Washington e das investigações sobre práticas brasileiras, por exemplo, alta tarifa para entrada no Brasil do etanol norte-americano e a substituição do dólar por moedas nacionais em transações entre países do Brics. Apesar do cenário, Troyjo acredita que a crise também abre espaço para o Brasil negociar vantagens econômicas e estratégicas.
Contudo, ele disse que nenhum país conseguiu dar um salto de desenvolvimento sem manter um relacionamento privilegiado com os Estados Unidos, além de defender que o Brasil trate essa relação como prioridade de Estado.
Para Troyjo, o conflito comercial é parte de uma agenda maior de reposicionamento industrial e tecnológico dos EUA, e, especificamente com o Brasil, as negociações têm seis objetivos: reduzir o impacto visual do déficit comercial americano; reorganizar cadeias críticas como semicondutores; garantir oferta estável e barata de energia para data centers e inteligência artificial; assegurar acesso a minerais críticos e terras raras; criar uma rede própria para produção de insumos farmacêuticos (APIs); e obter ganhos simbólicos e políticos internos.
O convidado espera que o Brasil consiga atingir concessões concretas, entre elas, suspensão ou flexibilização de tarifas impostas recentemente e tentar incluir produtos, como carne e café, em uma lista de eventuais alívios tarifários.
Em seguida, foi a vez do embaixador Roberto Azevêdo compartilhar as suas impressões. Ele apontou que, na visão de Trump, suas ações beneficiam a economia americana e seu questionamento das instituições multilaterais é válido, uma vez que, para ele, elas não têm mais as funções que deveriam cumprir, levando a uma abordagem bilateralista dos EUA com o resto do mundo, com o Brasil integrando esse cenário.
Sobre as tarifas, Azevêdo apontou que a taxa adicional de 40% tem um componente essencialmente político, uma vez que os EUA têm superávit comercial com o Brasil, tornando as tarifas menos lógicas sob uma perspectiva puramente econômica.
Para ele, já havia uma intenção prévia para distensionar as relações entre Lula e Trump, o que foi visto no breve encontro na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, e nas conversas subsequentes. Entre os motivos está a pressão inflacionária nos EUA, especialmente nos preços da carne e café.
O embaixador espera que nas próximas semanas as conversas se tornem mais objetivas e despolitizadas, focando em um pacote negociador atraente para ambos os lados, apesar de que o momento para um anúncio presidencial ainda não está definido, mas será anunciado quando um pacote comercial estiver pronto, seja via visitas presidenciais ou outros eventos.
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Por ACSP - 27/10/2025