Fenômeno climático El Niño pode provocar queda de produção no agronegócio

Especialistas do Conselho do IEGV/ACSP chamam a atenção para eventuais prejuízos com a redução da produção do agronegócio brasileiro por conta dos problemas climáticos causados pelo fenômeno El Niño

O Conselho de Avaliação da Conjuntura do Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP (IEGV/ACSP) se reuniu nesta quarta, (23), na sede da entidade, no centro de São Paulo, para mais um encontro do grupo que mensalmente faz uma avaliação setorial dos rumos da economia brasileira. Coordenado pelo professor e economista Edy Luiz Kogut, a reunião online contou com a participação do economista-chefe do IEGV, Marcel Solimeo, e dos analistas dos vários setores da economia brasileira.

O coordenador do Conselho abriu a reunião com comentários sobre a eleição do novo presidente da Argentina, Javier Milei, que pretende colocar em prática propostas radicais como fechamento do Banco Central e a dolarização da economia para solucionar o déficit fiscal, a dívida externa e inflação galopante. Para Kogut, “tudo ainda está muito nebuloso e são grandes as chances de soluções como essas não funcionarem. Por outro lado, na prática, a economia argentina já está dolarizada. O risco é a escassez de moeda, já que não haverá emissão.”

Agro

Centro de atenção de qualquer análise e avaliação da conjuntura econômica brasileira, o Agronegócio sempre traz notícias positivas para as reuniões do conselho. No entanto, nesse encontro, os analistas do setor ligaram um sinal amarelo em relação aos desajustes climáticos que podem gerar problemas como queda de produção de soja, milho e trigo nas várias regiões produtoras do País. Segundo os especialistas, o plantio de soja, que ocorre anualmente em duas etapas, está atrasado, o que pode significar uma queda de produtividade ainda imprevisível em termos percentuais.

O agro também vem se preocupando com a questão da conjuntura política que envolve o governo Lula, o Congresso e como a Reforma Tributária vai impactar no setor, com possível aumento de alíquota, além de enfrentar juros ainda muito altos e pouca oferta de crédito. Um dos sinais de uma possível redução da produtividade no setor é a queda das vendas de equipamentos, bens de capital utilizados na agricultura. Apesar da ampliação das terras cultivadas, na região centro-oeste, os especialistas lembram que problemas estruturais ainda devem influenciar o setor, entre eles a questão das terras indígenas, a judicialização excessiva e o acordo com a União Europeia.

 

Indústria

De acordo com o conselho, a indústria continua “andando de lado”, sem grandes novidades e um crescimento baixo de 0,2% nos últimos doze meses, o que, na média, revela uma queda no mercado interno, com menos investimentos, além de redução na produção de bens de capital, apesar de um aumento na produção de bens duráveis. Automóveis tiveram queda de 0,6% nas vendas, com demissões no setor.  Alimentos e produtos farmacêuticos são os que mais aumentam a produção. Já a indústria extrativa tem apresentado bons resultados considerando o aumento de 20% das exportações de minérios para a China. O setor ainda sofre com as altas taxas de juros e baixa oferta de crédito e a possibilidade do setor industrial, a partir da Reforma Tributária, ter a sua carga tributária fixada em 28%, o que, segundo os especialistas, inviabiliza o segmento.

Indústria Imobiliária

Por outro lado, o setor de construção civil já começa a perceber uma queda no seu estoque, com poucos empreendimentos sendo iniciados, especialmente na cidade de São Paulo. No entanto, o crescimento do setor continua animador, com um aumento de vendas de cerca de 8% e um crescimento de 10% em lançamentos, em relação aos 12 meses anteriores. 

Comércio e Serviços

Crescimento do ecommerce e problemas com concorrência dos produtos vindos da China têm afetado o comércio e o varejo tradicional de modo geral.
Em relação aos serviços, a expectativa ainda está em torno da reforma tributária e da nova alíquota para o setor.

 

Por ACSP