José María Aznar discute polarização política e suas consequências

Na segunda-feira (30), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por meio do seu Conselho Político e Social (COPS), recebeu, na sede da entidade, o ex-presidente de governo da Espanha, José María Aznar, ocasião em que palestrou sobre o tema: “A polarização da política mundial e suas consequências econômicas e sociais". Participaram do encontro o presidente da ACSP Roberto Mateus Ordine; Heráclito Fortes e Jorge Bornhausen, respectivamente coordenador e coordenador adjunto do COPS; Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (FACESP); Gilberto Kassab, secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado; além de outros convidados.

Na abertura do evento, Ordine destacou que “hoje, é um dia muito importante para a Associação Comercial porque recebemos o ex-presidente José María Aznar, que nos dá a honra de tê-lo aqui para aproximar a Europa, a Espanha, do nosso País, aprendendo um pouco com a sua experiência”.

Aznar iniciou agradecendo o convite para palestrar, e disse ser “uma grande satisfação estar aqui, no Brasil, em São Paulo e nesta entidade, parabéns pelo seu 130º aniversário”.

O ex-chefe do governo espanhol começou a sua explanação ressaltando que, atualmente, a sociedade passa pela maior revolução tecnológica da história da humanidade, em um curto espaço de tempo já registrado para algo do tipo, e “com características absolutamente disruptivas que afetam o sistema político, econômico, social e sistemas culturais”. Ele afirmou, ainda, que esse processo é o mais importante para a história do mundo, “provando ser muito mais desafiadora em suas consequências do que a invenção da roda, das máquinas têxteis, do vapor, eletricidade e telégrafo”.

Outro ponto discutido por Aznar foi a disputa entre grandes potências, especialmente entre norte americanos e chineses, e as consequências geopolíticas que esse conflito pode resultar. “Evidentemente, a grande competição é entre o líder do mundo ocidental, os Estados Unidos, e a China”, disse.

O palestrante continuou apontando que “China e seus aliados, Rússia, Irã e Coreia do Norte estão desafiando o poder do mundo liderado pelos Estados Unidos. Eles não dizem ‘queremos participar mais, maior participação na atual ordem internacional’. O que eles dizem é ‘queremos mudar a ordem internacional’”.

Para o ex-presidente de governo da Espanha, com o atual cenário de disputa entre as duas potências, o mundo está cada vez mais dividido, afetando, entre outros pontos, a integração entre as nações. “A globalização está perdendo força, o protecionismo e o nacionalismo estão renascendo”.

Sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, Aznar abordou as implicações do ato à segurança global, e o desfecho desse conflito pode influenciar situações similares em outras regiões. “A China está muito ciente do que acontece porque o grande objetivo, no curto prazo, é a integridade territorial e a soberania chinesa, que é Taiwan. Teoricamente eles têm que colocar sob seu controle antes de 2050”, retratou. “Se as coisas na Ucrânia ficassem muito complicadas e a Rússia vencesse, a situação em Taiwan seria extraordinariamente perigosa”.

Ao discutir o acordo entre União Europeia-Mercosul, Aznar mostrou ceticismo e disse que não sairá em um curto prazo. “Hoje, as condições não estão reunidas, tanto do ponto de vista europeu quanto latino-americano, para que este acordo possa ser alcançado”.

A respeito das eleições dos Estados Unidos, o político espanhol mostrou-se reticente e aliviado por não estar na pele do eleitor norte americano. Sobre Kamala Harris, apontou a falta de clareza da candidata em suas propostas, em especial à economia. "Em uma entrevista, perguntaram o que ela faria para baixar a inflação? Ela responde: nasci na Califórnia, em uma família modesta, minha mãe trabalhava muito, meu pai também, nós criamos duas irmãs. Ela conta a sua vida e não te diz uma palavra de como baixar a inflação”.

Já sobre Trump, disse ser difícil para ele aceitar um presidente que incita seus seguidores a invadir o Capitólio, que considera essa ação inaceitável e um sinal de incapacidade de liderança. “Eu poderia opinar sobre as políticas de Trump, mas nunca poderei aceitar que um presidente dos Estados Unidos estimule seus seguidores a invadir o Capitólio”.

Além disso, Aznar frisou que “o Partido Republicano que sempre existiu, de Lincoln e Ronald Reagan, não existe. Hoje, é o partido de Trump, que não é um Republicano clássico”.

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Por ACSP - 01/10/2024