Nove de Julho

Os ideais continuam os mesmos de 1932, mas os desafios de hoje são outros, talvez até mais difíceis, mas que seguramente, iremos vencer               

Embora feriado estadual, a maior parte da população não sabe o porquê. Por isso devemos esclarecer às novas gerações as causas, o significado e o desenrolar do Movimento Constitucionalista de 1932, e o que representou esse movimento, que mobilizou a população paulista na defesa dos ideais e honra do Estado de São Paulo.

Ao comemorar o 9 de julho, marco da Revolução Constitucionalista, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) reverencia parte importante de sua história, pelo papel relevante que desempenhou em todas as etapas desse movimento cívico que representou a luta para o restabelecimento da autonomia do Estado e pela volta ao regime constitucional e da democracia, usurpados por Getúlio Vargas.

A ACSP, sob a presidência de Carlos de Souza Nazareth, junto com as demais lideranças paulistas, buscou o diálogo com o governo, reivindicando respeito a São Paulo e autonomia para o Estado, que vinham sendo negados por Vargas.

Quando se esgotou qualquer possibilidade de acordo, como queria a ACSP, em consonância com o sentimento geral da população paulista, cujo entusiasmo na campanha pela defesa da Constituinte imediata acabou culminando na deflagração da Revolução Constitucionalista.

A entidade, então, assumiu diversas funções de suporte ao Movimento Constitucionalista. Cuidou das finanças, da intendência e do abastecimento, colaborou no alistamento e na captação e distribuição dos donativos. Criou vários departamentos, ficou responsável por procurar garantir o abastecimento da população e as finanças do movimento.

Quando o movimento militar avançou, e as necessidades financeiras se agravaram, a entidade coordenou a campanha “Ouro para o Bem de São Paulo,” cujos recursos, em grande parte não utilizados devido ao fim da revolução, foram doados à Santa Casa de Misericórdia, que construiu não apenas um novo pavilhão, como, também, o edifício na Rua Líbero Badaró, que tem o nome da campanha, e cujo formato lembra as treze listras da Bandeira Paulista.

Vencido no campo militar, devido à grande superioridade de recursos do governo federal, e a falta do apoio esperado de outros estados, pode-se considerar que São Paulo foi vitorioso no plano moral, por lutar “por São Paulo e pelo Brasil”, e porque em 1934 foi convocada a Constituinte pela qual lutara.

Carlos de Souza Nazareth assumiu toda a responsabilidade pela participação das classes empresariais e dos empresários paulistas na revolução e, junto com diversos líderes civis, foi preso e exilado.

Manteve-se firme aos ideais defendidos pela ACSP no Movimento Constitucionalista e, em carta aos diretores da entidade, afirmou estar preparado para suportar com dignidade todas as punições que lhe fossem impostas. Ao final de sua mensagem, exortava os companheiros a “não esmorecer para não desmerecer”.

 

O QUE PODEMOS DIZER DESTE NOVE DE JULHO

Os ideais continuam os mesmos de 1932, mas os desafios de hoje são outros, talvez até mais difíceis, mas que seguramente iremos vencer. A perda da liberdade, a intervenção do estado em todos os aspectos de nossas vidas, a crise econômica e social, resultantes da pandemia, são problemas conjunturais que, esperamos, sejam superados em breve.

Os desafios estruturais, no entanto, são muito mais difíceis de serem vencidos: resgatar valores como honra, ética, patriotismo, família e solidariedade, entre outros, e resgatar a convivência civilizada e a confiança entre as pessoas.

Restabelecer o equilíbrio e a harmonia entre os poderes e concentrar os esforços para assegurar, não apenas a retomada da economia, mas, principalmente, o desenvolvimento social.

Os desafios são muitos. Santo Agostinho ensinava que “enquanto houver vontade de lutar, haverá esperança de vencer”. Com base nesse ensinamento, e mesmos ideais do Movimento Constitucionalista de 1932, vamos trabalhar por um Brasil melhor para todos.

 

Marcel Solimeo

Por ACSP