
O que é networking?
A palavra network é usada amplamente entre os brasileiros para definir redes de contato ou relacionamentos. O seu gerúndio, networking, refere-se à ação de se relacionar ou criar uma rede em prol de um avanço profissional.
Redes de contato (ou sociais) existem desde a pré-história, quando homens de uma determinada tribo se sentavam em volta de uma fogueira - tanto que o termo “redes sociais” não é tecnicamente o mais correto para se referir a plataformas digitais como o Instagram, mas sim mídias sociais digitais.
Quais são as maiores transformações que o digital trouxe para o networking?
Dando esse salto para o mundo da tecnologia da informação, grosso modo dos anos de 1990 para cá, o digital transformou o networking de escassez em abundância: antes, conexões eram limitadas pelo espaço físico; hoje, temos acesso a redes globais em segundos, criando um capital relacional escalável, ou seja, posso manter contato com centenas de pessoas sem a necessidade de encontros presenciais, através de microinterações digitais como curtidas, comentários, mensagens diretas etc.
O networking deixou de ser apenas quem você conhece para se tornar também quem te encontra. O algoritmo e o SEO (estratégia de ranqueamento de links e mídias de forma orgânica) criam conexões não mediadas por encontros físicos, mas por relevância e autoridade digital. Escolher as palavras-chave certas, criar boas legendas, ser engajado e jogar o jogo do algoritmo te posicionará de forma privilegiada e, consequentemente, você será mais facilmente encontrado, aumentando sua rede de contatos.
A lógica mudou de círculo fechado (clubes, associações) para rede aberta e líquida, em que diferentes camadas da sociedade podem interagir, o que o sociólogo polonês Zigmunt Bauman chamaria de uma “rede líquida” da vida contemporânea.
Um dado curioso, segundo o relatório We Are Social (2025), o brasileiro passa, em média, 3h:32m por dia nas mídias sociais digitais, mas quando você analisa a principal mídia de networking profissional, que é o LinkedIn, esse número cai consideravelmente: 59 minutos por mês, na média!
Claro que podemos criar relações em todas as mídias digitais, mas sabemos que a grande maioria não se dedica a isso.
Quais erros mais comuns atrapalham o networking no digital?
Um dos erros mais comuns no networking digital é colocar a transação antes da relação, ou seja, pedir favores ou tentar vender algo antes de gerar confiança ou oferecer valor.
Outro equívoco frequente é confundir visibilidade com vínculo: estar presente nas redes não significa estar conectado de fato, e muitos ainda confundem seguidores com relacionamentos reais.
Também é comum a automação desumanizada, com mensagens prontas, spam no LinkedIn e convites frios sem contexto.
Por fim, há a ausência de consistência; aparecer apenas quando se precisa de algo. Networking não se constrói com contatos pontuais, mas com nutrição constante das relações, incluindo um convite para almoçar.
De que maneira pequenos empreendedores podem usar o networking online para expandir negócios?
Pequenos empreendedores podem usar o networking online como uma poderosa ferramenta para expandir seus negócios. Uma das formas mais eficazes é tratar o conteúdo como moeda de entrada, compartilhando conhecimento prático que gera autoridade e atrai conexões de forma orgânica.
Outra estratégia é o microengajamento estratégico: comentários relevantes em postagens de parceiros ou potenciais clientes podem abrir portas com muito mais rapidez do que anúncios pagos. Participar de comunidades de nicho, como grupos no LinkedIn, WhatsApp ou fóruns especializados, também costuma ter mais impacto do que tentar falar com “todo mundo”. Além disso, a prática da reciprocidade é essencial: oferecer ajuda ou visibilidade primeiro, antes de pedir algo em troca. Pequenos empreendedores podem recomendar serviços de outros, criar colaborações cruzadas e somar audiências; atitudes simples que fortalecem o relacionamento e ampliam o alcance de ambos.
O que muda entre networking tradicional (presencial) e o digital em termos de impacto?
O networking presencial tem profundidade, pois cria laços fortes e experiências compartilhadas, mas seu alcance é limitado. Já o digital oferece amplitude, permitindo conexões em larga escala, ainda que inicialmente mais frágeis, elas podem se fortalecer com o tempo. O filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han sintetizou isso de forma brilhante em seu livro “No Enxame”: Segundo ele, “A comunicação digital favorece a conexão, mas não a relação.”
Participar de eventos, estar presencialmente na sua empresa, participar de novos grupos que tenham afinidades com você ainda e sempre terá um grande valor na formação das relações. A dinâmica do ao vivo, do ver e ser visto tem um valor profundo nas relações humanas. Enquanto o digital trabalha com a imagem e a percepção do ser, já que tudo lá é produzido e editado, o mundo real acrescenta algo importante: a identidade, os valores e a técnica. Esses fatores são mais facilmente percebidos em ações práticas da vida. Como palestrante, posso gravar inúmeros vídeos perfeitos com a ajuda de edição, inteligência artificial e sonoplastia com o objetivo de melhorar meu networking e minhas contratações. Mas concorda que você me ouvir falando bem ao vivo, em uma reunião ou apresentação te dará muito mais confiança e conexão com o meu trabalho?
Em termos de impacto, o presencial é mais eficaz para consolidar vínculos já existentes, enquanto o digital é o terreno ideal para criar oportunidades inéditas. Por isso, o mais inteligente é adotar uma estratégia híbrida: usar o ambiente digital para abrir portas e o presencial para consolidar a confiança nas relações.
O futuro do networking
Definir o futuros é sempre complicado e aqui não é diferente. No caso do networking, eu me arriscaria dizendo algo diferente do que somos chamados a pensar. Diria que o futuro é a humanização e não a virtualização das relações. Empresas do mundo inteiro estão retornando ao modelo presencial, clubes do livro estão ressurgindo. O ser humano foi feito para se encontrar, trocar e melhorar suas relações, sem necessariamente com uma meta comercial. Pode não existir almoço grátis, como dizem os americanos, mas enquanto houver empatia, compaixão e desejo de ensinar e aprender com nossos pares, termos boas redes de contato para fazer negócios, amigos e afetos.
Tiago Souza é palestrante de comunicação, marketing e transformação digital, professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e do Ibmec, além de consultor estratégico de diversas marcas do mercado. Para mais informações, acesse o site: www.tiagosouza.me.
Por Tiago Souza - 29/10/2025