
O economista e professor Samuel de Abreu Pessôa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi o palestrante da primeira reunião presencial do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que aconteceu na quinta (27), na sede da entidade. Doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), bacharel e mestre em Física, o economista, especialista em crescimento, flutuações e planejamento econômico, fez um retrospecto das ações do governo Lula, desde o seu início, e apresentou sua perspectiva para os próximos dois anos.
O evento foi aberto pelo coordenador do Comitê de Avaliação e Conjuntura, Edy Luis Kogut, que fez uma breve apresentação do convidado e contou, ainda, na composição da mesa, com a presença do economista-chefe do IEGV, Marcel Solimeo, e do presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine. O palestrante abriu sua exposição fazendo uma retrospectiva dos dois primeiros anos da política econômica do governo Lula, salientando que “uma grande parte da nossa dinâmica é determinada, internamente, por conta do tamanho da economia e do nosso mercado interno”.
Para o palestrante, o cenário atual da economia brasileira mostra pontos positivos, como a baixa taxa de desemprego e o crescimento do PIB, em torno de 3,4%, em 2024, o que se contrapõe à alta da inflação e consequente crescimento da taxa básica de juros. Fez também uma avaliação das eleições de 2026 e como o resultado vai impactar nas políticas futuras.
Ele aponta que a conjuntura econômica está muito ligada ao processo eleitoral. “Somos uma democracia funcional. Temos eleições gerais a cada quatro anos, e as eleições, de certa forma, coordenam a formulação da política econômica”, afirmou.
Por causa disso, o professor lembra também que o tamanho da economia brasileira e do mercado interno determina que os choques externos ocorram e impactam no Brasil, mas em menor grau, considerando que a dinâmica do nosso mercado é muito determinada pelos fatores internos, especialmente pelo tamanho do mercado brasileiro.
De qualquer forma, ele faz uma análise das escolhas do presidente Lula, nesse terceiro mandato, para analisar os primeiros dois anos do seu governo atual. Pessôa disse que o presidente inverteu o ciclo normal da despesa pública, com as decisões mais duras sobre despesas e orçamentos sendo implementadas no início do governo. Lula liderou o Congresso na aprovação da Emenda Constitucional da Transição, que estabeleceu 1,7% do PIB de gasto público, sendo colocado permanentemente no orçamento.
Com isso, o pico do ciclo econômico acabou ocorrendo no quarto trimestre de 2023, com bons indicadores de inflação, emprego e crescimento do PIB. “Se considerarmos aquilo que os economistas chamam de índice de miséria, a soma da taxa de desemprego com a taxa de inflação, tivemos o índice mínimo na passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano passado. A perspectiva agora é que esse índice venha a piorar. Estamos construindo uma inflação de serviços que não é sensibilizada pela taxa cambial, uma inflação que responde diretamente ao excesso de demanda agregada sobre a oferta inserida, sendo o que nós vivemos”.
Além dos problemas de capacidade produtiva da economia brasileira, o palestrante lembrou também dos problemas de qualificação de mão de obra, que impacta diretamente em todos os setores da economia.
Em alguns aspectos, o professor elogia o desempenho de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda, que, segundo ele, fez duas coisas muito importantes: estabeleceu a agenda do presidente Lula e fez um diagnóstico que apontou o rumo certo, que acabaram em medidas corretas.
Além disso, conseguiu colocar em prática um Marco Fiscal, um novo arcabouço fiscal e uma série de mudanças importantes no planejamento tributário e nas negociações com o Congresso para a aprovação da Reforma Tributária.
De qualquer forma, o economista destacou as inconsistências do arcabouço fiscal, que podem trazer problemas e consequências negativas para a inflação, o orçamento e o “pouco convincente” pacote fiscal do final do ano passado”, além das decisões políticas visando às eleições de 2026. Para ele, não tem solução mágica: “Eu acho que a gente não vai resolver o Brasil em dois, três, quatro anos, mas, de qualquer forma, estamos muito melhor hoje do que estávamos na época da hiperinflação”.
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Por ACSP - 27/03/2025