PIB do Primeiro Trimestre de 2023 Surpreende, Alavancado pelo Dinamismo da Agropecuária
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto
(PIB) do primeiro trimestre apresentou crescimento de 1,9%, livre de efeitos sazonais, em relação aos últimos três meses do ano passado, acima das expectativas dos analistas de mercado.
Todas as outras comparações também foram melhores do que o incialmente projetado: em relação ao período janeiro-março de 2022 e no acumulado de quatro trimestres as altas foram de 4,0% (ver gráfico abaixo) e 3,3%, respectivamente.
O grande “motor” desse crescimento da atividade econômica acima do esperado foi a produção agropecuária, que experimentou notável aumento, decorrente de nova safra recorde, principalmente nos casos da soja e do milho, e dos maiores preços no mercado internacional.
Esse dinamismo da produção agropecuária também impulsiona o desempenho do setor industrial e o setor serviços, gerando uma participação do agronegócio como um todo, considerando toda a cadeia produtiva, de quase um terço do PIB.
Na comparação com os primeiros três meses do ano passado, o consumo das famílias, principal componente da atividade econômica pelo lado do gasto, apresentou leve desaceleração, crescendo 3,5%, em decorrência do aumento da renda, da maior concessão de crédito e do recuo da taxa de inflação.
O investimento produtivo (formação bruta de capital fixo) avançou 0,8%, na mesma base de comparação, mostrando forte arrefecimento em relação à leitura anterior, explicado pelo elevado custo de capital e pela redução da confiança dos empresários, frente às incertezas fiscais.
Por sua vez, o consumo do governo, que se refere fundamentalmente ao pagamento dos servidores e ao custeio da máquina pública se elevou em 1,1%, devido às maiores despesas associadas à PEC da Transição e à formação do novo Governo.
As exportações de bens e serviços cresceram 7,0%, acelerando fortemente por conta dos maiores preços internacionais de minérios, alimentos e petróleo, na esteira da recuperação da China. O menor aumento das importações (2,2%), refletindo as desacelerações do consumo das famílias e do investimento produtivo, redundou em contribuição positiva do setor externo como um todo para o PIB.
Pelo lado da oferta também houve elevação expressivo da produção agropecuária, que alcançou a 18,8%, destacando-se os ganhos de produtividade principalmente no caso da soja, mas também de outros produtos com safra relevante nos primeiros três meses do ano.
A produção industrial apresentou alta de 1,9%, em relação ao primeiro trimestre de 2022, menos intensa que a observada na leitura anterior. O desempenho dos principais segmentos foi heterogêneo: positivo para a indústria extrativa e para eletricidade e gás, água e esgoto e gestão de resíduos, devido aos maiores preços internacionais, no primeiro caso, e às melhores condições hídricas no segundo. Na contramão, a indústria de transformação sofreu queda na produção, afetada negativamente pela baixa demanda, explicada pelos juros elevados e maior endividamento das famílias.
O setor serviços apresentaram leve “perda de fôlego”, mas ainda cresceram 2,9%, mostrando resiliência no período pós-pandemia. O comércio se expandiu em apenas 1,6%, também devido ao maior custo do crédito e ao maior comprometimento de renda das famílias.
Em síntese, o PIB do primeiro trimestre surpreendeu e voltou a acelerar, gerando um viés de alta para o aumento da atividade econômica projetado para o ano como um todo. Contudo, para os próximos trimestres é esperada uma desaceleração do crescimento, pois os juros básicos, mesmo iniciando redução em setembro, ainda permanecerão em patamar elevado. Além disso, persistem as incertezas fiscais, o que poderá inibir novos investimentos, e o cenário externo é mais desafiador, com a continuidade da guerra na Ucrânia e a perspectiva de desaceleração da economia mundial.
Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal