Temas em Análise nº 347: Varejo Segue Perdendo Ritmo em Junho

Varejo Segue Perdendo Ritmo em Junho

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho, as vendas do varejo restrito (que não incluem veículos, material de construção e “atacarejo”) registraram queda de 0,1%, em termos mensais, livres de efeitos sazonais, abaixo das expectativas de mercado (+0,8%). Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve leve aumento de 0,3%, enquanto, no acumulado em 12 meses, o crescimento alcançou a 2,7% (ver tabela abaixo), levemente abaixo de nossa projeção (2,8% - ver gráfico na página seguinte), ante 3,0% anotado na leitura anterior. As vendas do varejo ampliado (que inclui todos os segmentos) também apresentaram resultado pior do que o esperado, em termos mensais, ao apresentar queda de 2,5%, com ajuste sazonal, contração interanual (-3,0%) e crescimento em 12 meses (+2,0%), menos intenso, em relação à leitura anterior.

Na comparação interanual, o comportamento dos segmentos do varejo restrito foi heterogêneo: houve retração das vendas de móveis e eletrodomésticos; hipermercados e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo; combustíveis e lubrificantes e livros, jornais, revistas e papelaria, e aumento do volume comercializado de tecidos, vestuário e calçados; artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria; equipamentos e material de escritório, informática e comunicação e outros artigos de uso pessoal e doméstico. As maiores vendas de tecidos, vestuário e calçados explicam a maior parte da elevação interanual do varejo restrito. No varejo ampliado, itens mais ligados ao crédito, tais como veículos e material de construção, além do “atacarejo”, mostraram quedas.

O desempenho do varejo mais fraco do que o esperado em junho se explicaria pelos efeitos negativos da maior taxa de juros e do aumento mais moderado da concessão de crédito, num contexto de alto grau de endividamento das famílias. Tanto os resultados interanuais do varejo restrito, como em 12 meses, são compatíveis com um cenário de “perda de fôlego”.

Em síntese, em junho, o varejo como um todo frustrou as expectativas. Os aumentos de renda e do emprego parecem não ser suficientes para evitar a perda de ritmo do consumo, que já era esperada. A alta da taxa de juros básica (SELIC) afeta negativamente, com maior intensidade, os segmentos mais dependentes de financiamento. Por todos esse motivos, prevemos a continuidade da desaceleração nas vendas do varejo restrito durante os próximos meses, terminando o ano com crescimento de 2,1%.

 

Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal - 19/08/2025