Combate ao crime organizado foi destaque no “Simpósio de Segurança"

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) organizou o primeiro “Simpósio Nacional de Segurança Pública”, na última sexta-feira (26), das 08h30 às 19h, em duas partes. Na primeira, pela manhã, no auditório da Casa, com a realização de cinco painéis, e, na segunda, à tarde-noite, na Plenária, com sete. Todos os painéis foram acompanhados, de perto, pelo presidente e vice-presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine e Luiz Flávio Borges D’Urso, idealizador do evento.

“Este é um evento que busca trazer a visão federal, estadual e municipal das forças de Segurança Pública com participações do Ministério Público, Tribunal de Justiça, Advocacia, Polícia Federal, Polícia Civil, Sistema Prisional, GCM e Polícia Militar”, salientou D’Urso, momentos antes de iniciar a segunda parte do Simpósio, que começou às 14h30 com o sexto painel, intitulado “Atuação do Ministério Público no Enfrentamento à Criminalidade”, com a palestra do dr. Ivan Francisco Pereira Agostinho, subprocurador-geral de Justiça Criminal do Ministério Público de São Paulo.

Durante sua manifestação, dr. Ivan deu um panorama da atuação do Ministério Público em São Paulo e elencou suas principais operações, além de salientar o expressivo número de casos de violência doméstica, sobretudo no interior paulista, “uma chaga que acomete nossa sociedade”, e de destacar a recorrência dos crimes cibernéticos. Ele ainda pontuou que a solução para o crime organizado é a integração entre as instituições de Segurança Pública. “O MP está preparado para atuar contra essa criminalidade mais organizada e está se profissionalizando. Estamos com as portas abertas para todo e qualquer órgão que queira trabalhar em conjunto, em parceria”, declarou.

Segundo o subprocurador, 70% dos Boletins de Ocorrência no interior de São Paulo referem-se à violência doméstica, uma “epidemia, o maior problema que a gente vive”. Ele se posicionou pedindo que essa problemática esteja contida na “Carta de São Paulo”, documento-manifesto que encerra o Simpósio Nacional de Segurança Pública.

Dr. Ivan citou ainda a atuação do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na asfixia financeira das quadrilhas, nas 244 operações, entre elas, as maiores: “Carbono” e “Ester”. Segundo ele, o MP já contabilizou mais de R$ 140 milhões bloqueados; 209 imóveis sequestrados; 724 prisões; 200 casos de lavagem de dinheiro.

Quanto a crimes cibernéticos, o subprocurador confidenciou que, em reuniões com instituições financeiras, como o Bradesco e Itaú, houve solicitação de demanda deles para que o MP foque sua atenção nos “laranjas”, uma vez que o crime organizado vem cooptando uma rede de laranjas para a movimentação bancária eletrônica. “O perfil dos laranjas mudou. Hoje, uma juventude periférica, que amadureceu vendo redes sociais, está sendo cooptada pelo crime organizado. Há casos de apenas um jovem, de 19 anos, abrindo mais de 40 contas bancárias de uma vez”, esclareceu, complementando que essa é uma das fragilidades do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeira) e que os bancos estão preocupados.

Na sequência, quem abriu o sétimo painel foi o dr. Artur José Dian, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo trazendo como tema “Investigação Criminal e Modernização da Polícia Civil”. Ele apresentou cenas explícitas de “um mal que estamos vivendo, hoje, com os crimes cometidos em plataformas digitais”.

Dian informou o modus operandi do NOAD (Núcleo de Observação e Análise Digital), que possui “hackers do bem” em atuação e já conseguiu evitar mais de 350 ataques a escolas, mutilações, suicídios, estupros virtuais de menores de idade, incentivados por plataformas digitais como o Discord, Roblox, Telegram, TikTok, entre outras. De outubro de 2023 até o momento, segundo ele, o NOAD vem monitorando as redes, plataformas e alvos, com identificação dos autores e vítimas; 742 alvos em monitoramento contínuo; 308 vítimas salvas; 127 acionamentos de outros estados; produção de relatórios técnicos; deflagração de operações policiais.

Ao final de sua palestra, o delegado deixou um alerta: “Pais, não deixem o algoritmo saber mais sobre seus filhos do que os senhores. Acompanhem o que eles fazem nas redes sociais”. Para mais informações e denúncias, é possível encaminhar e-mail para [email protected]

No oitavo painel, “Segurança Pública Municipal e o Papel das Guardas Metropolitanas”, o inspetor-superintendente da GCM de São Paulo, Donizeti Luciano de Oliveira, contextualizou a história das GCMs pelo Brasil, que remonta à década de 1980, no processo de redemocratização, e especificou o papel e as etapas de atuação da Guarda: policiamento fixo nos municípios; patrulhamento motorizado; e Smart Sampa.

De acordo com ele, em São Paulo, de janeiro a setembro deste ano, a GCM contabilizou 8.208 ocorrências; apreendeu 39 armas de fogo; 77 armas brancas; e 57 simulacros; e a região central foi a campeã das ocorrências, totalizando 2.505, seguida da leste, com 2.252; sul 1.735; norte, 918; e oeste, 798.

O inspetor disse ainda que a capital paulista conta com 7.198 integrantes atuantes em programas de policiamento especializado no atendimento e acolhimento a vítimas de violência, e que no período de 2019 a 2023, as Guardas Municipais cresceram 11% no Brasil, sendo 1.322 municípios com estrutura de segurança pública, com mais de 101 mil integrantes.

No nono painel, “Combate ao Crime Organizado Transnacional”, coube ao palestrante dr. Rodrigo Luis Sanfurgo Carvalho, superintendente regional da Polícia Federal no Estado de São Paulo, representando o dr. Andrei Augusto Passos Rodrigues, diretor-geral da PF, trazer todos os detalhes referentes ao que a Polícia Federal tem realizado para coibir o crime organizacional transnacional.

Sanfurgo pontuou que a PF vem “asfixiando a capacidade financeira” das quadrilhas, mas confessou que a “complexidade da realidade digital e os bancos sem fronteiras” são desafios para a tarefa. “Criptomoedas, abertura de contas e transferência de remessas para o exterior via bancos virtuais são úteis e uma facilidade para nós, mas também o é para o crime organizado”, comentou, acrescentando que a PF está antenada com o que está acontecendo com a tecnologia. “Temos buscado tecnologia para ajudar a PF a identificar os criminosos, atuando de forma eficiente”, afirmou.

Segundo ele, este ano, a PF já bateu recorde de apreensão em valores no Brasil e exterior, envolvendo pendrives e criptomoedas do crime organizado. O superintendente disse ainda que o Brasil é reconhecido no exterior por sua “forte atuação” para coibir o crime organizado transnacional e a prova é termos um brasileiro na presidência da Interpol. “Hoje, o Brasil tem representações em vários países, e o presidente da Interpol é brasileiro, fruto do trabalho do País na seara internacional. Esse posto importante sempre foi ocupado por um americano ou europeu, agora, conquistado por um brasileiro. Isso graças ao trabalho sério de combate ao crime organizado transnacional”, explicou.

Já no décimo painel, conduzido pela desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, o tema esteve centrado na “Justiça Criminal Enfrentando o Crime Organizado”. Ivana, com 35 anos de carreira como juíza, e 24 de atuação com Crime Organizado, deu uma aula sobre o perfil do sistema prisional brasileiro, debateu a diferença entre crime organizado e criminalidade de massa, apontou as principais características das organizações criminosas, pontuou o que compete à Polícia Judiciária, GAECO e aos poderes de investigação do MP, e esmiuçou o olhar tecnológico na busca e apreensão de provas.

A desembargadora finalizou indicando as maiores organizações criminosas do mundo, entre elas, o PCC, que aparece na 8ª posição, movimentando mais de 500 milhões de dólares, e pontuou que, segundo a ONU, o crime organizado movimenta mais de 3 trilhões de dólares por ano, o que equivale a 3,6% do PIB mundial.

Ela ainda informou que há plano de carreira para os jovens que se envolvem com o narcotráfico. “O menor pode escolher onde quer atuar e seguir carreira no crime organizado, e o glamour tem feito com que os jovens gravem os crimes com [câmera] Gopro e postem nas redes sociais”. Ivana também comentou que o perfil do criminoso mudou: “Não são apenas os tatuados, que sobem o morro de moto, mas, sim, com atuação na Faria Lima”.

No penúltimo painel, “Perspectivas e Desafios Futuros da Justiça Criminal no Plano Internacional”, o desembargador Ricardo Tucunduva, do Tribunal de Justiça de São Paulo, remontou a história prisional no País e apontou como foi o surgimento do crime organizado em âmbito mundial, passando por figuras históricas como Lampião, a época romântica do Direito Penal, a figura de Gino Amleto Meneghetti, os punguistas-carteiristas, e encerrou comentando o embrião e evolução do PCC, repassando os crimes impetrados pelo Primeiro Comando da Capital em maio de 2006, quando pararam a cidade e o estado de São Paulo.

Encerrando o Simpósio Nacional de Segurança Pública, o painel da profa. dra. Marina Pinhão Coelho Araújo, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e vice-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo, que representou o prof. Renato de Mello Silveira, da USP, palestrando sobre “Tecnologia e Direito Penal no Combate ao Crime”.

Marina focou sua palestra em apontar as causas da violência estatal e disse que é “preciso de dados para enfrentar o problema”, valorização das polícias no Brasil e uma legislação menos “esquizofrênica”: “Temos que olhar para essa corporação e para as pessoas que estão nas ruas enfrentando diversos dilemas, uma vez que são pouco treinadas, recebem salários baixos, mas, sem elas, não conseguiremos resolver a questão da violência estatal. Há muitos Projetos de Lei no Congresso, mas é difícil [sair do papel] porque falta vontade política”.

Ela complementou dizendo que a questão do “vácuo estatal é profunda nas regiões periféricas das cidades” e que “estamos dando os jovens para o crime organizado”. “O Estado não faz a parte dele e não existe outra forma de tratar o crime senão preenchendo o vácuo do Estado”. A professora finalizou sua participação apontando que é necessário investimento em Educação para que os menores permaneçam na escola sem opção de recrutamento pelo crime.

Ao final do Simpósio, o vice-presidente da ACSP, D’Urso, fez a leitura da Carta de São Paulo, documento-manifesto que traz uma síntese de cada painel, com os principais tópicos e pontos referentes à Segurança Pública.

Veja as fotos: flic.kr/s/aHBqjCvobw 

Por ACSP - 29/09/2025